São Paulo, domingo, 3 de novembro de 1996
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'Esporte mutante' encontra a identidade

RODRIGO BUENO
ENVIADO ESPECIAL A BELO HORIZONTE

O futebol de salão já não é mais o mesmo. Das regras ao próprio nome, o esporte com maior número de praticantes no país sofreu nos últimos anos verdadeira mutação.
O futsal, como é conhecida agora a miniaturização mais comum do futebol, aposentou a bola pesada, ampliou as dimensões da quadra, esqueceu o lateral com as mãos e permitiu o goleiro ir ao ataque.
Essas foram apenas algumas das mudanças por que passou a modalidade, agora regida pela Fifa.
Ao contrário do conservador futebol de campo, o futsal não pensou duas vezes para mudar.
Primeiro veio o limite de faltas -a partir da sexta infração, há chute direto, sem barreira.
Depois permitiu-se a marcação de gols de dentro da área.
Alterações radicais vinham sempre seguidas de sutis modificações, como a extinção do "carrinho".
Hoje, na tentativa de valorizar o jogador criativo, a jogada é proibida. Sua prática, mesmo que de "forma leal", deve ser punida com expulsão pelo árbitros.
Globalização
Todas as mudanças do futsal visaram, logicamente, à melhoria do esporte, mas, mais que isso, buscaram a universalização e a unificação da modalidade.
Inicialmente limitado quase que só ao território brasileiro, o futsal é praticado hoje em mais de 150 países. Com regras distintas em diferentes lugares, a luta é fazer com que o esporte se torne único.
Após o futsal ter sofrido várias metamorfoses, a Fifa, entidade que rege o futebol mundial, parece ter achado, enfim, a combinação genética ideal para a modalidade.
As regras do Mundial da Espanha, torneio que começa este mês, deverão se perpetuar, além de serem disseminadas por todo o planeta -o uso do goleiro-linha já será empregado no Brasil em 97.
Desde 89, quando a Fifa assumiu o futsal -até então o esporte era comandado pela Fifusa-, a idéia do brasileiro João Havelange, presidente da entidade, era difundir a modalidade, da mesma forma que fez com o futebol de campo.
O Mundial da Espanha tem seleções da Europa, da Ásia, da África, da Oceania e das três Américas.
Há boa chance de o futsal já estar presente nos Jogos de Sydney, em 2000. O esporte seria modalidade do futebol (como o vôlei de praia é do vôlei), mas já valeria medalhas.
O presidente do Comitê Olímpico Internacional, Juan Antonio Samaranch, acompanhará o Mundial da Espanha -o terceiro organizado pela Fifa. Após o torneio, será feito o anúncio sobre a inclusão ou não do futsal nos Jogos.
Cobaias
A mutação do futsal exigiu dos profissionais da modalidade grande poder de adaptação, mas ganhou total aprovação dos mesmos.
"O futsal era gostoso de se jogar, mas muito chato de se ver. Com a mudança das regras, o jogo ficou mais dinâmico, bom para a TV", disse Eustáquio Araújo, técnico da seleção brasileira.
O ala-direito Manoel Tobias, uma das armas do Brasil para o Mundial, também achou benéfica as mutações, pois, diz, tornaram "emocionante" a modalidade.
"As novas regras melhoraram o esporte. O futsal ficou mais atrativo. Acho que agora não vai haver mais alterações", disse.
A seleção brasileira, em sua preparação para o Mundial, enfrenta hoje a Argentina, em Belo Horizonte. Depois embarca para o Nordeste, onde realiza uma série de amistosos. O time viaja para a Espanha no próximo dia 19.

NA TV - Brasil x Argentina, na Globo, ao vivo, a partir das 10h

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