São Paulo, terça-feira, 5 de novembro de 1996 |
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Viúva de piloto diz que queria ter morrido
AURELIANO BIANCARELLI
"Eu queria morrer ao lado dele. Era um pacto entre nós, mas ele não cumpriu sua parte", disse sem chorar. Na tarde de ontem, folheando os álbuns da família, Mariangela lembrava que em cada viagem o marido levava um salmo da Bíblia que ela copiava no computador. "Quando a gente viajava junto, eu entrava no avião e dizia: 'Deus, se tiver de ser agora, vou estar feliz'. Mas ele acabou morrendo sozinho", afirmou. Brenda, a única filha do casal, tem 2 anos meio e ainda não sabe de nada. No final de semana, brava, começou a perguntar pelo pai. Uma psicóloga da TAM iniciou ontem uma série de sessões com a mãe e a filha para ajudar a dar a notícia. "O pai e a Brenda eram grudados", diz Mariangela. Desde que nasceu, sempre que estava em casa, era o pai que dava banho, trocava fraldas e segurava a mamadeira. Na quarta-feira, véspera do acidente, pai e filha andaram no carrossel do Shopping Center Norte e, à noite, em casa, Brenda brincou de touro cavalgando o pai, como gostava de fazer. Na manhã seguinte, a filha dormia quando Moreno saiu para o vôo 402. O piloto foi o primeiro namorado de Mariangela. Os dois se conheceram ainda crianças, quando ela, paulistana da Mooca, passava as férias na fazenda de uma tia, em Mogi Mirim (157 km a noroeste de SP). Na fazenda vizinha, morava a família de José Antonio. Desde menino, ele só pensava em aviões. "Com 11 anos dirigia tratores olhando para o céu", conta a irmã Maria Ângela Moreno Cossi, 34. Tanto insistiu que um dia o pai alugou um pequeno avião para que o menino pudesse saber se queria mesmo ser piloto. "O piloto fez tantas acrobacias sobre a fazenda que o pai passou mal, mas o Zé Antonio desceu feliz como nunca", diz a irmã. Aos 16 anos conseguiu o brevê e, em 1987, já era piloto da TAM. Em cinco anos, passou de co-piloto de aviões Bandeirantes para comandante de Fokker-100. Terminou como instrutor de vôo desse tipo de aparelho. Três dias antes do vôo, Moreno lembrou a mulher que queria ser cremado e pediu que não chorassem se morresse voando. "Dizia que se isso acontecesse, ele morreria feliz", lembra Mariângela. Moreno morreu como queria, mas acabou sendo enterrado no cemitério de sua cidade natal, Mogi Mirim. Para ser cremado, seria preciso esperar o final do inquérito sobre o acidente. Uma das possibilidades era conservar seu corpo numa geladeira do IML. Mariangela não quis. "Ele era tão cheiroso, vivia perfumado. Não gostaria de ficar num lugar como aquele." Texto Anterior: Ar limpo: direito ou mito? Próximo Texto: Pai do piloto passa mal Índice |
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