São Paulo, terça-feira, 5 de novembro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Favelado fica próximo de vaga na elite

Fábio Silva é 3º melhor do Brasil

MARCELO DIEGO
DA REPORTAGEM LOCAL

O cearense Fábio Silva, 24, está próximo de dar um grande salto: sair da favela do Serve Luz, em Fortaleza (CE), para disputar o WCT (elite do surfe mundial).
Fabinho, como é conhecido, é o terceiro melhor surfista brasileiro na atualidade, com 4.792 pontos. O primeiro é Joca Júnior (RN), com 6.277.
Atleta pobre, Fabinho cursou até o 3º ano do primeiro grau. Começou a surfar em 1985, com uma prancha de madeira montada por ele.
Sempre morou na mesma casa. Foi melhorando-a à medida que ia ganhando algum dinheiro.
Nos dois últimos finais de semana, ganhou, em prêmios, R$ 7.000.
*
Folha - Você já sentiu alguma discriminação por ser pobre?
Fábio Silva - Não. Tem sempre alguns amigos que fazem brincadeiras, mas eu nem ligo. Já passei muitas dificuldades, mas, graças a Deus, minha vida melhorou.
Folha - Graças ao surfe?
Fábio - É sim. O surfe me deu muito dinheiro. Ainda moramos na favela do Serve Luz, em Fortaleza, mas é uma casinha boa, que estou melhorando para minha mãe. Folha - Quantas pessoas moram lá?
Fábio - Eu, dois irmãos, minha mãe, Liane (uma amiga da família), que sempre pega onda comigo. Minha namorada, que está grávida, também vai morar lá.
Folha - Vocês vão casar?
Fábio - Vamos não. Minha mãe disse que não era uma boa me casar e eu vou seguir esse conselho. Vamos viver juntos, a partir de fevereiro, quando meu filho nascer.
Folha - Você escolheu o surfe para ganhar dinheiro?
Fábio - Escolhi porque gosto, sempre gostei. Pegava onda com uma prancha de madeirite, que eu mesmo fiz. Daí fui juntando, comprei uma prancha boa e meti as caras. Agora, consegui um patrocinador que acredita muito em mim, dá para treinar mais. E ganhar algum dinheirinho...
Folha - Você está indo muito bem no WQS e no Brasileiro neste ano. Por que este salto?
Fábio - Todo surfista tem uma fase boa e uma ruim. Estou numa boa, mas já tive fases ruins. Neste ano, poderia até estar melhor. Em setembro, peguei uma catapora e tive que ficar sete dias de cama. Fui sair para pegar onda, tive uma recaída e precisei ficar mais um mês parado. Perdi uns três campeonatos. Estava em 16º no WQS e acabei caindo para 28º. Mas tenho confiança de que vou recuperar.

Texto Anterior: Santos já faz planos para o Paulista de 97
Próximo Texto: Alemanha Oriental tinha 'farmácia' em 76
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.