São Paulo, terça-feira, 5 de novembro de 1996
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Filme "Baile Perfumado" vence festival

INÁCIO ARAUJO
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA

O júri do 29º Festival de Brasília cortou curto nas principais categorias.
Entendeu a novidade que traziam "Baile Perfumado" e "Um Céu de Estrelas" e a crise em que atiram um velho e deletério cinema brasileiro.
O notável trabalho dos pernambucanos Lírio Ferreira e Paulo Caldas ficou com o prêmio de melhor filme.
Tal seria se não fosse: é uma redescoberta do cangaço a um tempo hawsiana e fulleriana (de Howard Hawks e Samuel Fuller, grandes cineastas americanos), feita com um orçamento modesto para o gênero (US$ 1 milhão) e muita integridade.
Tem força, enfoque original, conhecimento da tradição e do cinema etc.
Perfeito, também, o prêmio de melhor direção atribuído a Tata Amaral. Seu "Um Céu de Estrelas" tem problemas, mas tendemos a esquecê-los, tal a força da diretora.
"Baile Perfumado" levou também o Prêmio Unesco, instituído este ano e reservado a diretores estreantes.
Talvez seja o prêmio principal, já que tem a maior premiação: R$ 20 mil. Tata Amaral ganhou uma menção especial do júri da Unesco.
Piada
Bem, a partir daí é quase tudo galhofa. Tonico Pereira ("O Cego que Gritava Luz") levou melhor ator, o que soa a piada. Pereira é um ator mal dirigido, na melhor das hipóteses.
Dira Paes ficou como melhor atriz, por "Corisco e Dadá". Ela é uma Dadá que combate com valentia as dramáticas deficiências de direção (como, aliás, o ator Chico Diaz, que faz Corisco).
Mas não faz sombra a Andrea Beltrão, que carrega "O Pequeno Dicionário Amoroso" nas costas.
Ator coadjuvante: se Aramis Trindade ("Baile") não fosse premiado, seria um escândalo. Foi. Atriz coadjuvante: Maria Silvia, a empregada de "Como Nascem os Anjos". Está ok e não tinha concorrência.
Roteiro: Jean-Claude Bernardet e Roberto Moreira por "Um Céu de Estrelas". Prêmio justo para um trabalho difícil (se fosse "Baile", também seria justo).
Em seguida, três prêmios a não discutir. Fotografia: Walter Carvalho por "Pequeno Dicionário Amoroso", de Sandra Werneck. Direção de arte: Adão Pinheiro por "Baile Perfumado". Edição de som: João Godoy, por "Um Céu de Estrelas".
Melhor montagem: Virgínia Flores, por "Pequeno Dicionário". É um caso à parte.
Ela fez o que pôde (e até mostrou que pode), mas se há um filme que, por problemas estruturais, compromete o montador é, precisamente, este.
Mas prêmio de montagem é sempre igual: em geral ninguém do júri sabe direito o que é montagem, por isso não pode entender o nível do trabalho de Idê Lacreta ("Um Céu de Estrelas") ou Vânia Debbs ("Baile Perfumado"), que deram a filmes difíceis ritmos impecáveis.
Música (ou trilha sonora): foi para Sergio Ricardo (por "O Lado Certo da Vida Errada").
Sergio Ricardo compôs belas canções para este filme patético. Mas não compôs a trilha (que é uma compilação). Aqui o erro é técnico.
É óbvio que a música mais cinematográfica das apresentadas era a de Lívio Tragtenberg e Wilson Sukorski ("Um Céu de Estrelas") ou a mais popular, como "Baile Perfumado", ou qualquer outra. Menos a de Sergio Ricardo.
Entre os curtas, o prêmio de melhor filme foi "Mr. Abrakadabra", de José Araripe Jr. O de melhor direção, para "Anjos Urbanos", de Rosane Svartman.
Entre mortos e feridos, o único longa que ficou a zero foi "Olhos de Vampa", um calamitoso equívoco de Walter Rogério (de "O Beijo", exibido em 94).
Mas, depois de tanta média, "Olhos de Vampa" parece mais um bode expiatório de fraquezas que não são só dele.

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