São Paulo, terça-feira, 5 de novembro de 1996
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Prigogine defende incerteza e criatividade na ciência moderna

Prêmio Nobel de Química falou ontem, no Rio de Janeiro

RONI LIMA
DA SUCURSAL DO RIO

Ao criticar a visão racionalista da ciência moderna, o prêmio Nobel de Química (1977), Ilya Prigogine, 79, defendeu um novo pensamento em que haja lugar para a complexidade e a incerteza dos dados e para a criatividade do ser humano.
"Para mim, o elemento novo é colocar a idéia da instabilidade no centro da ciência moderna", disse o cientista russo, naturalizado belga, que abriu ontem no Rio o seminário internacional "Representação e Complexidade".
Presente ao debate de abertura do seminário -que será promovido até amanhã no Centro Cultural Cândido Mendes, no centro do Rio-, o ministro da Cultura, Francisco Weffort, qualificou a exposição de Prigogine de "brilhante, magnífica".
Na mesma linha filosófica apresentada pelo professor, Weffort citou as ciências do século 19, chamando-as de autoritárias por terem se baseado "em certezas sobre o futuro da humanidade".
"O Fim das Incertezas" foi o tema discutido por Prigogine, autor, entre outros, do livro "A Nova Aliança". Para ele, é preciso se acabar com "o dualismo" que separa o homem e a natureza.
O homem, segundo o cientista, é parte integrante da natureza. E na natureza, acrescentou, não existem leis deterministas. Prigogine afirmou que "hoje vemos instabilidade e evolução em toda parte".
Um crítico dos parâmetros racionalistas da chamada ciência ocidental, Prigogine disse ser o momento de começar a falar não em certezas, mas em "possibilidades, probabilidades".
Prigogine procurou deixar claro que não estava defendendo uma ciência irracional. Para ele, "a meta" que se busca é encontrar "a passagem estreita" entre duas concepções de mundo.
Ou seja, entre a concepção determinista, em que não há lugar para a criatividade, a intuição, e a concepção irracional, que compara a ciência a um jogo de dados, em que não se pode ter certeza dos resultados.
Promovido pelo Conselho Internacional de Ciências Sociais da Unesco e pelo Conjunto Universitário Cândido Mendes, o seminário internacional continua hoje com debates, entre outros, com o filósofo francês Edgar Morin.

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