São Paulo, terça-feira, 5 de novembro de 1996
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Morre Bokassa, o imperador africano

Antigo ditador tinha 75 anos

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Jean-Bedel Bokassa, presidente e imperador centro-africano, acusado de chacinas, canibalismo e desvio de milhões de dólares de dinheiro público, condenado à morte e depois perdoado, morreu no domingo, aos 75 anos, em Bangui, a capital do país.
Bokassa era um dos principais representantes de uma geração de governantes africanos que tomou o poder logo após a onda de independência dos anos 60 e, à força, se manteve por muitos anos.
Em 4 de dezembro de 1977, inspirado em Napoleão Bonaparte, transformou sua república em Império Centro-Africano e coroou-se imperador -a coroa valia US$ 5 milhões. Bokassa teve 17 mulheres e, pelas suas contas, 54 filhos.
Nos últimos anos, sem conseguir recuperar a sua fortuna, confiscada pelo governo, vivia da pensão de ex-militar francês.
Desde o ano passado, sua saúde era instável devido a um derrame cerebral. Tinha também problemas renais, hepáticos, catarata e pressão alta, que o levaram a ser transferido para a Costa do Marfim (segundo a família, a França, antiga potência colonial, não permitiu a entrada de Bokassa).
Seu corpo foi mantido sob custódia policial no necrotério e terá honras oficiais no enterro "devido às altas funções que ocupou à frente de nosso país durante muitos anos", segundo o governo.
O "império" de Bokassa durou pouco menos de dois anos. Em setembro de 1979, quando o imperador visitava a Líbia, soldados franceses patrocinaram um golpe de Estado que levou de volta ao governo David Dacko, derrubado por Bokassa em 1966.
Deposto, Bokassa se exilou na Costa do Marfim e na França. Em 1986, as autoridades francesas o entregaram às centro-africanas. Foi condenado à morte por suas atrocidades, mas teve a pena comutada e acabou anistiado.
No julgamento, um cozinheiro disse que costumava fritar carne humana -especialmente crianças- para o imperador. Bokassa negou: "Adoro crianças". Foi absolvido do crime de canibalismo.
Fora do governo, iniciou uma campanha contra o ex-presidente francês Valéry Giscard D'Estaign, que teria, segundo ele, recebido milhões de dólares em diamantes centro-africanos. A denúncia não foi provada, mas prejudicou a reeleição de D'Estaign, em 1981.

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