São Paulo, quarta-feira, 6 de novembro de 1996
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Grupo de extermínio ameaça investigação

EMANUEL NERI

EMANUEL NERI; ANDRÉA DE LIMA
DA REPORTAGEM LOCAL

Comissão de Direitos Humanos divulga lista com nomes de dez pessoas marcadas para morrer

A Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados divulgou ontem lista com o nome de dez pessoas que estavam "marcadas para morrer" em Natal (RN) por causa de investigações sobre um grupo de extermínio local.
A relação é encabeçada pelo procurador-geral de Justiça do Rio Grande do Norte, Emanuel Cavalcanti, seis promotores, um delegado de polícia e dois integrantes do Centro de Direitos Humanos e Memória Popular de Natal.
A lista foi obtida por membros da Comissão de Direitos Humanos que acompanham apuração sobre a morte do advogado e ativista de direitos humanos Francisco Gilson Nogueira de Carvalho.
O advogado foi assassinado no último dia 20, em Macaíba (RN). Ele denunciara envolvimento de policiais civis do Estado em um grupo de extermínio chamado "Meninos de Ouro".
Maurílio Pinto de Medeiros, ex-subsecretário de Segurança do Estado, era acusado de comandar esse grupo. Sob pressões do governo federal, o governador Garibaldi Alves Filho (PMDB) demitiu o subsecretário na semana passada.
A lista com as pessoas marcadas para morrer foi entregue ao deputado Hélio Bicudo (PT-SP), presidente da Comissão de Direitos Humanos, por um presidiário ouvido na Casa de Detenção de Natal, cujo nome ficará em sigilo.
A informação do detento é baseada em relato de policiais que estão presos acusados de envolvimento no "Meninos de Ouro".
O procurador-geral Emanuel Cavalcanti confirmou as ameaças de morte que ele e os seis promotores vinham recebendo.
Os promotores acompanhavam 54 inquéritos que apuravam envolvimento de policiais no "Meninos de Ouro". Por causa dessas ameaças, segundo Cavalcanti, as investigações haviam sido suspensas. Estão sendo retomadas agora.
O procurador-geral disse que não teme o fato de encabeçar a lista de "jurados de morte".
"Eu não dou crédito às ameaças. A missão de um procurador é procurar oficiar nas ações penais. Nunca um promotor foi morto por oferecer denúncias", afirmou.
Maurílio Pinto de Medeiros, subsecretário de Segurança afastado pelo governador na semana passada, afirmou que a lista "não tem o menor fundamento, não existe, é uma invenção".
O coordenador da Comissão de Direitos Humanos e Memória Popular de Natal, Roberto de Oliveira Monte, que também consta da lista, afirmou que é preciso que as instituições funcionem.
"Só depois que uma pessoa morreu (Gilson de Carvalho) resolveram considerar graves as violações aqui no Estado", disse.

Colaborou Andréa de Lima, da Agência Folha

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