São Paulo, quarta-feira, 6 de novembro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Tudo (quase) azul no front externo

LUÍS NASSIF

Nunca as oportunidades de investimento estrangeiro no Brasil foram tão favoráveis como na presente quadra. Esta é a conclusão do painel "A Performance Brasileira no Mercado Internacional de Capitais", realizado ontem no 3º Encontro Anual da Sobeet (Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica), em São Paulo.
De 1991 -quando o governo Collor reatou relações com a comunidade financeira internacional- até 96, o panorama mudou da água para o vinho.
Alfred Dangoor, diretor executivo do International Corporate Finance, do Citibank, avalia que em 1991 e 1992 o grosso do dinheiro era investimento brasileiro repatriado, a prazos de um a dois anos, e sem muito critério de análise.
Nos últimos tempos, o dinheiro passou a fluir através de investidores institucionais americanos, e a prazos de 5 a 10 anos. Algumas aplicações até foram lançadas sem opção de resgate antecipado.
Do ano passado para cá, as operações de arbitragem (trazer dólares para aplicar nos juros internos) perderam espaço. Com as restrições colocadas pelo BC e as taxas de juros domésticas caindo, reduziu a arbitragem, e aumentou a emissão de bônus pelas companhias, vis-a-vis as emissões de bancos.
No período 93/94, 70% das emissões eram de bancos. No ano passado, o percentual caiu para menos de 50%.
Além disso, a competição provocou redução dramática dos spread (as taxas cobradas pelo investidor) e do fee (comissão do banco repassador).
A crise do México, em janeiro de 1995, atrapalhou o mercado por apenas 3 a 4 meses, mas mudou o quadro.
Até dezembro de 1994, o México era o favorito dos investidores, e o Brasil ocupava um lugar baixo nas análises de risco. Agora, o Brasil assumiu a liderança, conseguindo disponibilidade de recursos, taxas baixas e prazos elevados.
Mesmo assim, dados acrescentados por Jair Ribeiro -do banco Patrimônio, associado à Salomon Brothers- demonstram que ainda há muito a se caminhar na exploração do potencial externo.
No mercado de fundos de renda variável para países emergentes, o Brasil assumiu a liderança. Absorve 11% do porta-fólio desses fundos, acima da China, Índia e México.
A questão é que esses fundos de países emergentes representam uma parte mínima da indústria de fundos.
Em 1992, as aplicações dos fundos de pensão americanos em países emergentes não passam de US$ 8 bilhões. Este ano, devem bater em US$ 38 bilhões, contra um estoque de US$ 3,4 trilhões dos fundos -ou seja, menos de 1% dos ativos. Levando em conta critérios como o PIB, os países emergentes deveriam absorver cerca de 6% dos recursos.
Portanto, há enorme espaço para ampliar participação.
Mesmo ocupando a liderança, o Brasil tem hoje só duas empresas com ações cotadas na Bolsa de Nova York -Telebrás e Aracruz. As empresas mexicanas chegam a 27. Para cada fundação americana que aplica no Brasil, existem dez aplicando no México.
Toda a questão consiste em entender a psicologia de um sujeito confuso: o investidor internacional, sem muita familiaridade com o Brasil.
Mas isto é tema para a próxima coluna.

Texto Anterior: Argentina perde competitividade
Próximo Texto: Governo espera que vendas externas reajam em 1997
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.