São Paulo, quarta-feira, 6 de novembro de 1996
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Suzana Amaral filma "O Caso Morel"

JOSÉ GERALDO COUTO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Dez anos depois do aclamado "A Hora da Estrela", a cineasta Suzana Amaral, 63, começa daqui a duas semanas a rodar seu segundo longa-metragem, "O Caso Morel", baseado no romance homônimo de Rubem Fonseca.
Com Marco Ricca, Pedro Cardoso e Fernanda Torres nos papéis principais, o filme será todo rodado no Rio de Janeiro, a um custo aproximado de R$ 1,8 milhão.
O ateliê do artista Morel (Marco Ricca) está sendo construído num estúdio em Jacarepaguá. Estão previstas também locações no aeroporto Santos Dumont, no Hotel Glória, no parque Lage e na praia do Grumari.
Suzana contou com um roteiro criado pela escritora Patricia Melo, com a qual colaborou.
"Nós 'viajamos' situações absurdas com nossos personagens até encontrarmos situações que nos satisfizessem", explica a diretora.
Suzana afirma que "o roteiro ficou ótimo: inteligente, ágil". Sua intenção, conforme declara à Folha, é fazer um filme "insólito" e "descartável". Leia abaixo trechos da entrevista.
*
Folha - Em "A Hora da Estrela" você fez uma adaptação bastante fiel do livro de Clarice Lispector. Pretende fazer o mesmo com "O Caso Morel"?
Suzana Amaral - Ao adaptar obras literárias, o compromisso maior tem que ser com a essência do livro.
Ao passar de um "medium" para outro acontece uma transfiguração, não uma adaptação. Deve-se preservar o espírito original do livro.
Os fatos são importantes, mas não indispensáveis. O que importa é o sussurro, o que está atrás das palavras. O subtexto da obra.
Folha - Quais foram as mudanças mais importantes que você fez na história?
Suzana - Mudanças? Muitas... Poucas...
A intenção é, de um livro denso, forte, com clima de pesadelo, fazer um filme estranho, inusitado, curioso, sem angústias. Poderia até dizer descartável, desses filmes que você vê, se impressiona, ri, chora, se preocupa, mas quando as luzes acendem você sai leve, tendo apenas tido um tempo agradável.
Folha - Rubem Fonseca chegou a acompanhar a feitura do roteiro do filme?
Suzana - Ele confiou totalmente, nunca interferiu, apenas ajudou quando solicitado. Foi maravilhoso. Gostou muito do resultado final.
Folha - Como vai ser a "cara" do filme?
Suzana - Um clima de pesadelo sem angústias, embrulhado em estranhamento. Insólito. Quase um realismo absurdo. Com uma estrutura formal em mosaico e caleidoscópio.
Folha - Seu longa anterior, "A Hora da Estrela", foi feito há dez anos. De lá para cá, o que você fez, profissionalmente?
Suzana - Fiz comerciais, filmes institucionais, escrevi quatro roteiros, fiz uma minissérie em Portugal, morei em Berlim e em Lisboa, tive projetos nos EUA e na Holanda.
Não se concretizaram porque eu "optei" por desacertar com os produtores e então decidi voltar para o meu canto. Sabe aquela fábula do rato da cidade e do rato do campo?
Folha - Como foi exatamente aquela sua polêmica com Caetano Veloso a propósito do filme "Cinema Falado"? O que você pensa hoje sobre o assunto?
Suzana - Nem me lembro mais. Vivo no hoje. Não sei curtir o passado, nem ficar sonhando o futuro. Passou...
Acho que foi tudo um grande mal-entendido da mídia que nos jogou um contra o outro. Caetano é maravilhoso. Como poderia feri-lo?

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