São Paulo, quarta-feira, 6 de novembro de 1996
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WebTV troca emoção do surfe por calor do sofá

RICARDO ANDERÁOS
DO UNIVERSO ONLINE

A Internet, com a aparência que conhecemos hoje, pode desaparecer dentro de um ano. Ou então Sony e Philips, as gigantes da eletrônica que já nos impuseram padrões de consumo como o CD de áudio, o walkman e o CD-ROM, vão amargar um dos maiores fiascos de sua história.
No olho do furacão, um aparelho pouco menor do que um videocassete, uma jovem empresa do Vale do Silício e uma marca emblemática: WebTV.
A idéia não é nova e a tecnologia, menos ainda: um aparelho que exibe páginas da Internet na tela da TV, conectado à linha telefônica por um modem 33.6 Kbps. Mas, quando Sony e Philips fazem um movimento dessa envergadura, as coisas podem mudar de rumo.
As duas empresas começam a inundar lojas dos EUA com seus aparelhos de US$ 300 nesta semana. A campanha publicitária para o Natal vai bombardear os consumidores com a pergunta: você vai continuar fora da Internet?
Uma pesquisa nacional sobre hábitos de uso da rede realizada pela Yankelovich Partners Inc. entrevistou mil norte-americanos com idades entre 18 e 64 anos de idade. A conclusão: se pudessem escolher, 52% dos entrevistados preferiria surfar na rede via TV, confortavelmente, em seus sofás.
Entre os principais motivos da opção estão "não precisar aprender a usar micros", "ter companhia" para surfar e, é claro, "preços mais baixos".
WebTV é o que os norte-americanos chamam de "set-top-box", uma caixinha para ser colocada sobre o aparelho de TV. Para usá-la você precisa conectar uma entrada à linha telefônica, a saída no aparelho de TV e assinar qualquer serviço de acesso à Internet.
O aparelho possui um navegador (browser) próprio, que promete compatibilidade total com o Netscape 3.0 e o Explorer 3.0, já vem com capacidade para executar sons Real Audio e MIDI, compressão de vídeo MPEG e permite a instalação de plug-ins (extensões).
Para navegar sua WebTV, um controle remoto oferece uma combinação de funções do mouse e do teclado. Como o navegador também permite recebimento e envio de correio eletrônico, a WebTV pode vir com um teclado que funciona remotamente, por raios infravermelhos, ou ser conectada a teclados de micros PC.
"Redesign" da interface O ponto de inflexão na concorrência entre a WebTV e os computadores é a baixa definição de imagem oferecida pelos aparelhos de televisão, quando comparados aos monitores dos micros. As atuais páginas Web são desenhadas para serem vistas a um ou dois palmos de distância, num monitor de alta definição. Em sua maior parte, ficarão imprestáveis se vistas em baixa, e a três metros de distância.
É aí que entra na história uma jovem empresa do Vale do Silício chamada WebTV, que já tem prontinho um serviço on line desenhado especialmente para arrancar os melhores resultados desse meio híbrido de micro com TV.
A tecnologia para set-top-boxes e browser foi desenvolvida pela empresa, que vendeu a licença de comercialização dos aparelhos para Sony e Philips a peso de ouro. Agora, eles vão fazer mais dinheiro vendendo a US$ 20 por mês conteúdo on line para quem adquirir os aparelhos de US$ 300.
Não que seja totalmente impossível navegar pela atuais páginas Web com o aparelho. O browser WebTV tornou mais fácil de usar um antigo recurso do Netscape, que permite controlar o tamanho das letras que aparecem na tela.
A set-top-box também vem com uma placa de vídeo especial que, segundo Sony e Philips, garante definição de imagem superior à usual em aparelhos de TV.
Mas, se a WebTV cair mesmo no gosto dos consumidores e se impuser como padrão de mercado, todos os atuais desenvolvedores de homepages terão de rever seus estilos de criação e, quem sabe, até redesenhar todas as páginas que criaram para arrancar o máximo do novo sistema de acesso.
A hipótese pode parecer absurda se pensarmos que já existem dezenas de milhões de páginas Web no ar. Entretanto, não podemos esquecer que todo esse conteúdo foi gerado em apenas dois anos.
Se o "mainstream" dos consumidores aderir à Internet via WebTV, a força de mercado gerada será mais do que suficiente para arrastar mesmo os internautas mais antigos, que ainda praguejam contra os anúncios e páginas de empresas na rede. Na troca da escrivaninha pelo sofá, o verbo "surfar" terá que ser substituído por outro que remeta a imagens mais lânguidas. Neste Natal, a sorte da rede está lançada.
A colunista Maria Ercilia está em férias.

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