São Paulo, quinta-feira, 7 de novembro de 1996
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Zagallo propõe tática usada com o 'trauma dos pênaltis'

Para treinador da seleção, equipe não deve ficar 'cismada'

MÁRIO MAGALHÃES
DA SUCURSAL DO RIO

O regulamento da Copa do Mundo da França prevê "morte súbita" nas quatro últimas das cinco fases do torneio.
Na primeira, os 32 times se dividem em oito grupos, nos quais se classificam os dois primeiros.
A partir daí, há partidas eliminatórias. Com empate no tempo normal, há prorrogação, na qual quem marcar primeiro vence.
Se o placar da prorrogação for 0 a 0, a decisão será em pênaltis.
A única das 15 Copas decidida em pênaltis foi a dos EUA-94, quando Brasil e Itália não fizeram gols.
Pela primeira vez, a Copa reunirá 32 países. O continente com mais representantes será a Europa, com 15. A América do Sul só empata com a África, com cinco equipes, porque o Brasil já tem vaga assegurada por ser o atual campeão. O Mundial começa no dia 10 de junho de 98, com a seleção brasileira enfrentando adversário a ser definido.
Com a experiência de cinco Copas, como jogador ou integrante de comissões técnicas, o treinador Mario Zagallo condena a "morte súbita".
(MM)
*
Folha - Desde a Copa de 86, quando o Brasil foi eliminado nas penalidades, até a conquista do Mundial de 94, se falou no "trauma dos pênaltis", nos quais o país sempre teria poucas chances. Agora há o "trauma da 'morte súbita' "?
Mario Zagallo - O Brasil já teve o "trauma dos pênaltis", mas ganhamos assim a Copa do Mundo de 94, derrotando a Itália. Não podemos ficar cismados agora com a "morte súbita". O remédio é o mesmo: se ela acontecer, vamos fazer o gol e ganhar.
Folha - Por que o senhor se opõe a esse mecanismo?
Zagallo - A "morte súbita" é ruim porque ela não dá chance de reação à equipe que sofre o primeiro gol, como ocorreu conosco na Olimpíada de Atlanta.
Folha - Qual o melhor método para desempatar as partidas?
Zagallo - Deve haver outro jogo, dois dias depois do empate no tempo normal.
Folha - Mas na Copa do Mundo não há datas para isso, os jogos são próximos uns dos outros.
Zagallo - Eu sei, mas depois de 90 minutos a única maneira justa de desempatar é fazendo outro jogo. Aí, sim, poderia haver pênaltis.
Folha - O senhor considera injusta a "morte súbita". Não acha, também, que ela incentiva as táticas muito defensivas, por medo de sofrer o gol?
Zagallo - Não vejo retranca, porque aí mesmo é que a vitória é importante. Quanto mais uma equipe jogar próxima à área do adversário, mais chances terá de marcar. Essa é a lógica.
Folha - O que o senhor disse aos jogadores na conversa antes da prorrogação com "morte súbita" contra a Nigéria?
Zagallo - Foi curioso. O Amaral (meia defensivo) gritou: "Gente, nós não podemos levar gol", e eu gritei, em seguida: "Nós temos é que fazer o gol".

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