São Paulo, quinta-feira, 7 de novembro de 1996
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Surfe com barriga

CARLOS SARLI

Nesta época do ano, da perna brasileira do Circuito Mundial, a mídia resolve dar uma cobertura mais ampla ao surfe, e lá vem uma ressaca de asneiras.
Surfistas de verão na cobertura do esporte, com raras e elogiosas exceções, jornais, revistas e TVs, não especializados, ficam à mercê de assessorias de imprensa de competência duvidosa ou à apreciação do repórter de plantão no domingo.
Interessados, ávidos por informação, meio deslumbrados, meio peixes-fora-do-aquário, caem de pára-quedas na muvuca que costuma ser um palanque de competição, acumulando releases e dados que se confundem na massa cinzenta.
Resultado: a população de surfistas varia de um milhão -número próximo da realidade, é o máximo que se pode dizer- até dois milhões e meio.
Os dáblio-cê-tês se confundem com os dáblio-quê-esses, e o que é acesso vira principal.
Surfistas que ralaram o ano inteiro para garantir uma vaga na elite continuam fora nos textos assinados por jornalistas cuja experiência mais próxima ao surfe foi ficar de pé na cama.
Sou ignorante para avaliar se as mesmas barbaridades acontecem quando esses centímetros e segundos são ocupados pelo turfe ou vôlei de praia. Também não me interesso. Sei que no futebol não rolam.
Sem dúvida é gratificante ver uma foto de surfe na capa de um jornal ou o noticiário da TV com imagens do dia. Mas já está na hora desses veículos deixarem de dar espaço apenas porque é gritante o interesse que o jovem tem, mas, sim, passar a vê-lo como um esporte dos mais divertidos, plásticos e economicamente forte, tratando-o com a atenção que merece.
Em tempo. O Surf Adventure no Sportv, a cobertura do Mundial na ESPN/Brasil, e as matérias que o "Fantástico" tem colocado aos domingos são exemplos bem acabados do tipo de tratamento que os interessados no esporte querem receber.

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