São Paulo, sexta-feira, 8 de novembro de 1996
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Mostra explora contrastes de Blumenfeld

DANIELA ROCHA
EM LONDRES

O alemão Erwin Blumenfeld, um dos fotógrafos de moda mais importantes do século, foi parar nesse meio por acaso.
É o que mostra a exposição "Blumenfeld: A Fetish for the Beauty" (Blumenfeld: Um Fetiche pelo Belo), que reúne mais de 250 trabalhos, em cartaz na galeria Barbican de Londres até 15 de dezembro.
Explorador das técnicas fotográficas, Blumenfeld gostava de brincar com efeitos especiais: na mesma imagem registrava positivo e negativo, fazia múltiplas exposições, fotomontagens, e, com frequência, usava um recurso chamado solarização -que é expor o papel fotográfico a um flash de luz e criar dessa forma tonalidades de cinza.
Com essas e outras técnicas, Blumenfeld quebrou a idéia de repetição, o conceito de que fotografia é a arte de reprodutibilidade da imagem. Ele interferia diretamente no papel fotográfico e tornava cada ampliação única. Cada ampliação sua era uma obra de arte.
Ele fotografou tudo: retratos, nus, cidades, paisagens, moda, arquitetura e natureza morta. Também desenhava e pintava.
Sua trajetória, no entanto, não foi de estrelato fácil. Blumenfeld viveu as duas grandes guerras. Aos dez anos começou a fotografar, mas, no começo de sua juventude, foi escalado para trabalhar como motorista de ambulância na Primeira Guerra.
Suas fotos dessa fase registram a influência do dadaísmo com imagens de destruição.
Após a guerra, ele mudou-se de Berlim para Amsterdã. Nesse período, começou a fazer experiências com recursos técnicos variados em fotos de nus e retratos.
Em 1936, mudou-se novamente, desta vez para Paris, determinado em investir na sua carreira de fotógrafo profissional.
Não demorou para personalidades e editores de moda perceberem seu talento e requisitarem seu trabalho. "Vogue" e "Harper's Bazaar" disputavam para ter suas fotos publicadas em editoriais de moda. Fotografou roupas de Chanel, Lelong e Schiaparelli.
Quando começava a decolar em seu trabalho, veio a Segunda Guerra. Por ser judeu, Blumenfeld foi mandado para quatro campos de concentração, mas, com os contatos de trabalho que havia feito, conseguiu em 1941 visto para os EUA.
Começou aí a fazer mais fotos de moda e de publicidade -um de seus maiores clientes foi a indústria de cosméticos Helena Rubinstein. Retratou personalidades como Marlene Dietrich, Eugene O'Neill e Juliette Greco.
Nas suas fotos de moda, Blumenfeld inovou ao destacar desenhos e texturas dos tecidos e ao valorizar as roupas a partir de quem as vestia.
Suas mulheres sempre eram registradas de forma a reforçar sua beleza, seu contorno.
Uma das capas que fez para a "Vogue" americana (de janeiro de 1950) mostra apenas um dos olhos, a sobrancelha, a boca vermelha e uma pequena pinta, detalhes do rosto da modelo. Tudo em um fundo branco.
A foto escolhida para o cartaz da exposição traz a modelo fotografada sob "luz de depoimento", uma iluminação colocada bem acima de sua cabeça que provoca sombras em seus olhos e abaixo do pescoço. É a foto que melhor resume os contrastes de Blumenfeld.

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