São Paulo, sexta-feira, 8 de novembro de 1996
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Coquetel 'varre' vírus HIV das amígdalas

JAIRO BOUER
LUCIA MARTINS

JAIRO BOUER; LUCIA MARTINS
ENVIADOS ESPECIAIS A BIRMINGHAM

Pesquisa inédita mostra a redução da carga viral para níveis indetectáveis em seis pacientes na Holanda

Pesquisa inédita divulgada ontem mostrou que seis pacientes que usaram o coquetel de drogas contra o HIV tiveram redução para níveis indetectáveis da quantidade de vírus nas amígdalas, espécie de quartel-general das células de defesa do organismo.
As amígdalas têm composição muito semelhante à dos gânglios. A diminuição de vírus é fundamental nesses tecidos porque esse é o local onde 99% do HIV reside e onde se trava a maior batalha entre o vírus e o sistema imunológico.
O estudo, coordenado pelo Centro Nacional de Avaliação de Tratamento para Aids, em Amsterdã (Holanda), foi o primeiro a documentar redução do HIV em outros tecidos do corpo além do sangue.
Esse é mais um passo importante para o controle da infecção. Resta ainda vasculhar outros possíveis reservatórios de HIV (pele, sistema nervoso, esperma etc) para saber se o vírus continua existindo mesmo após o tratamento.
O trabalho holandês, que reuniu um total de 33 pacientes que tomaram ritonavir (inibidor de protease que interfere na última fase de multiplicação do vírus), AZT e 3TC por seis meses, foi apresentado no encerramento do 3º Congresso Internacional de Tratamento da Infecção pelo HIV, em Birmingham (Reino Unido).
Um quarto dos pacientes teve de interromper o tratamento por causa dos efeitos colaterais (diarréia e náuseas).
Todos os pacientes que seguiram o tratamento tiveram redução de carga viral no sangue. Pelo menos 80% deles alcançaram níveis indetectáveis de vírus no sangue depois de 16 semanas de tratamento.
Biópsias nas amígdalas foram feitas antes do uso do coquetel e seis meses após o tratamento. Só foram divulgados os resultados dos testes das amígdalas de seis desses pacientes.
O método de detecção do vírus nas amígdalas é um dos mais sensíveis disponíveis hoje. Consegue localizar até 30 cópias do vírus por mg de tecido.
Sven Danner, principal investigador do estudo, considerou os resultados encorajadores, mas disse que eles ainda não são a solução final. "Esperamos que daqui a algum tempo não possamos mais detectar o HIV em nenhum tecido, incluindo os vírus 'latentes' (que não se multiplicam de imediato)."
David Ho, do Aaron Diamond de Nova York (EUA), disse que a pesquisa é uma prévia do que o coquetel pode fazer com o vírus nos tecidos linfáticos.
Para André Villela Lomar, infectologista do Emilio Ribas, o resultado dos estudos mostra que o coquetel está conseguindo mudar a "história natural da Aids".

Jairo Bouer viajou a convite da Abbott

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