São Paulo, sábado, 9 de novembro de 1996
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Troca de gendarme?

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - Que o Mercosul, o conglomerado Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai, é o quarto maior bloco comercial do mundo já não é novidade, ainda que muitos brasileiros não dêem muito valor a esse dado.
Mas o embaixador argentino no Brasil, Diego Ramiro Guelar, parece apostar que o Mercosul se torne, tão rapidamente quanto possível, o quarto país do mundo, o que, logicamente, é ir muito além de um mero bloco comercial.
Ufanismo excessivo? Talvez. Mas, sem que o jornalismo tenha dado muita bola para a história, um dos elementos mais importantes que constituem uma nação (a sua política de defesa) já está em avançada construção pelo Mercosul.
O que Guelar chama de "fase um" dessa construção se encerrou. Brasil e Argentina, que passaram praticamente toda a sua vida como nações independentes, imaginando um conflito entre ambos, desarmaram suas fronteiras, desmontaram os serviços de espionagem de um sobre o outro e assim por diante.
Até na área mais sensitiva, a energia nuclear, a cooperação hoje é irrestrita.
Agora, em 1997, vai-se passar à "fase dois". Ou seja, à cooperação institucional para desenhar uma política conjunta de defesa. As respectivas chancelarias e ministérios militares vão sentar-se à mesa para discutir como o Mercosul se organizará para enfrentar temas como eventuais instabilidades políticas, narcotráfico, terrorismo etc.
De alguma forma, se essa cooperação realmente avançar, a América do Sul pode dispensar o seu gendarme histórico, os Estados Unidos. Guelar toma todo o cuidado que sua profissão impõe para não usar a expressão "troca de gendarme", até porque acredita que a América do Sul dispensa um.
É possível, mas que uma política supranacional de defesa, se sólida, terá impactos formidáveis no relacionamento da região com os EUA é inegável.

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