São Paulo, sábado, 9 de novembro de 1996
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Governabilidade com partidos fortes

SÉRGIO MACHADO

Defendo o fim dos dois turnos para as eleições municipais e estaduais por entender que eles têm sido fatores de desagregação e enfraquecimento do nosso sistema partidário.
O Brasil ainda está construindo sua democracia -daí a necessidade de uma ampla reforma política, e ela só será verdadeiramente representativa com partidos políticos fortes e bem estruturados. Criado para assegurar condições de governabilidade aos eleitos, o sistema de dois turnos, além de não cumprir esse objetivo, vem retardando o necessário aprofundamento da nossa democracia representativa.
Isso ocorre porque, na prática, as alianças com vistas ao segundo turno são passageiras e acabam desfazendo-se terminada a eleição. As alianças acontecem mais em função do perfil pessoal dos candidatos do que das idéias e programas que defendem.
Tanto é assim que, este ano, chegamos ao extremo de um partido derrotado em primeiro turno pregar o voto nulo no segundo, numa negação do próprio sistema. É importante ainda registrar que a esmagadora maioria dos primeiros colocados no primeiro turno acabam vencedores no segundo.
Nas eleições municipais e estaduais, tanto os candidatos e partidos derrotados no primeiro turno quanto seus eleitores dividem-se em relação aos que chegam ao segundo turno.
As eleições em São Paulo mostram isso claramente. Pesquisa publicada nesta Folha, no sábado passado, mostra que os eleitores de José Serra e Francisco Rossi estão absolutamente divididos na sua opção para o segundo turno. Do lado de Serra, 37% declaram que vão votar em Celso Pitta, e iguais 37%, em Luiza Erundina. E dos que votaram em Rossi, 38% apóiam Pitta, e 33%, Erundina.
Considero o sistema de dois turnos válido apenas para as eleições presidenciais, onde se trava sempre um grande debate nacional, de cunho ideológico, em que as alianças tendem a ser consequentes. Mas sugiro a realização do segundo turno já no dia 30 de outubro, como forma de reduzir o tempo excessivamente longo entre os dois pleitos.
Da forma como funcionam hoje no Brasil, os dois turnos só contribuem para enfraquecer os partidos políticos. São fraturas que demoram a ser sanadas e prejudicam a vida partidária, que é o coração do sistema representativo. E sem partidos fortes, a primeira vítima é a própria governabilidade.

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