São Paulo, domingo, 10 de novembro de 1996 |
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Ivo Branco desafia o "fio da navalha" gay
PAULO GIACOMINI
Em 93, Ivo Branco foi o melhor diretor no Rio Cine Festival. Em junho deste ano, o filme foi apresentado em Nova York no "Lesbian & Gay Film Festival". Para o diretor, trabalhar com a temática homossexual é o mesmo que estar no fio da navalha. "Se o gesto for grande, fica estereotipado, se for pequeno, não dá a verdadeira dimensão." A frase justifica uma das cenas do curta, em que Leo dá a arma para Mario. Ele coloca o cano do revólver na cabeça do amigo e vai descendo com a arma até a sua boca. Mario pega no cano e segura firme a arma. Originalmente, a arma seria levada até a região pubiana de Mario. Branco preferiu parar na boca. "Assim como o pênis, a arma é um símbolo fálico. O encontro dos dois, mesmo que apenas sugerido, poderia ficar exagerado." No Carnaval, Leo (Marco Ricca) e Mario (André Barros) se fantasiam de Batman e Robin. Em um assalto a um armazém, os quase marginais são abordados pelo dono, que é morto por Leo. Eles fogem e se refugiam em um galpão. Originalmente escrito para o palco e ambientado no barraco de uma favela, o diretor transportou a cena para um galpão, porque sugere o microcosmo da sociedade, "um depósito de coisas inúteis". Assim como a relação entre eles é estabelecida nas entrelinhas do que falam, o conflito é proveniente de um choque latente. Mario é passivo como o Robin dos quadrinhos. Ao contrário do "verdadeiro" Batman, Leo não tem a perspicácia do personagem. A relação dos dois também não se parece com a dos super-heróis. O amor que Mario sente por Leo é desfeito no instante em que o ciúme aparece como sentimento. A fantasia se desfaz e torna-se nítido o amor de um latente homossexual por um heterossexual convicto. Como uma relação platônica, em que somente o homossexual sente o amor e ama o amor que sente, o outro dedica-lhe apenas amizade. Este, ao ser ameaçado, tenta fugir. Mas é impedido. Texto Anterior: Refresque o verão no Sesc Interlagos Índice |
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