São Paulo, domingo, 10 de novembro de 1996
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Raimundos querem implodir São Paulo

TOMAZ AUTRAN

Banda brasiliense faz seu último show do ano na cidade e lança pacote de CD, vídeo e história em quadrinhos para o Natal
Após nove meses, mais de 80 shows, entre eles alguns na Europa, e milhares de quilômetros rodados pelas estradas do Brasil, o Raimundos volta a São Paulo.
Nos três shows deste final de semana no Olympia -hoje é o último dia e também o último do ano na cidade-, a banda quer mostrar aos fãs paulistanos algo especial. "Vamos implodir o Olympia, estamos aqui para abalar as estruturas", garante o guitarrista Digão.
Além da inclusão de músicas inéditas no "set list" -que também serão lançadas em um CD especial de Natal, que sai em cerca de dez dias- e efeitos pirotécnicos durante o show, Zenilton, o guru musical dos rapazes, e Rios, uma dançarina de axé music, colocam lenha na fogueira sonora da banda brasiliense. "A Rios é um desafio que estamos lançando à Carla (Perez, da banda É o Tchan). Ela vai estar fazendo a 'Dança do Vavá'. Vai entrar de roupa, mas, como vai sair, depende do público", diz Digão.
Lançado em outubro de 1995, o segundo disco do Raimundos, "Lavô Tá Novo", já vendeu mais de 250 mil cópias. A banda começou a excursionar em março deste ano, fazendo uma média de 12 shows por mês.
Apesar do lançamento do pacote com CD, fita de vídeo e história em quadrinhos para o Natal (ver box ao lado), a turnê do "Lavô Tá Novo" se estende até o meio de 1997. "O CD para o Natal não é um disco com músicas inéditas. Temos muito material em que estamos trabalhando na estrada, mas nada em definitivo", diz o vocalista Rodolfo. "Não vamos mudar o show enquanto não sair o disco novo, apenas adicionar algumas músicas ao 'set'", emenda Fred, o baterista.
E o melhor show da turnê? "Foi em Belo Horizonte", responde Digão. "Eram 12 mil pessoas pulando juntas. Foi lindo", rebate Fred. "Nossos shows estão enchendo mais, acho que agora tem mais pessoas curtindo nosso som."
Ramones "cover"
Formada no "etílico" Réveillon de 1988 em Brasília, a banda era originalmente um trio. Fãs dos Ramones, tocavam muitos "covers" da banda novaiorquina e algumas composições próprias. Na verdade, Raimundos é apenas um aportuguesamento de Ramones.
Após dois anos de shows em pequenos bares da capital, Canisso, Rodolfo e Digão se separaram. "Cada um foi cuidar de sua vida. O Canisso foi estudar Direito e teve seus filhos, o Digão largou a bateria porque estava ficando surdo e começou a tocar guitarra, e eu cantava em uma banda chamada Royal Straight Flesh", afirma Rodolfo. "A separação nos fez bem. Todos crescemos muito e chegamos à conclusão de que queríamos ser músicos mesmo", diz Digão.
Em 1992, surgiu a oportunidade de tocar em um bar em Goiânia e a decisão foi unânime: o Raimundos seria ressuscitado. No final das contas, o show foi um fiasco: tiveram de tocar com uma bateria eletrônica (Digão já havia se tornado guitarrista), a platéia queria que tocassem "covers" dos Ramones, foram vaiados. Mas os três estavam resolutos.
Como seria inviável continuar sem um baterista, Fred, que já conhecia os rapazes dos círculos musicais de Brasília, foi convidado para assumir as baquetas.
O sucesso
"O Fred é a mão que segura os balões, no caso eu, o Canisso e o Rodolfo", diz Digão às gargalhadas. "Na verdade, se o Fred não tivesse entrado para o Raimundos, nós nunca teríamos virado o que somos hoje. Ele nos deu um direcionamento mais sério, botou ordem na casa."
Graças aos esforços de Fred, a banda finalmente gravou uma fita demo, que caiu nas mãos de Carlos Eduardo Miranda, jornalista e produtor musical. Acabaram sendo contratados pelo selo independente Banguela, sob a tutela dos Titãs. Gravaram em 94 o primeiro disco, "Raimundos", que vendeu 150 mil cópias e levou disco de ouro. Em poucos meses, já estavam tocando nas rádios e emplacaram o primeiro clipe, "Nêga Jurema", na MTV.
No ano seguinte, já consolidados no cenário musical, gravaram o segundo CD, "Lavô Tá Novo", considerado mais comercial pela crítica. "Não é mais comercial, apenas não tocamos a duzentos por hora o tempo todo. Eu acho que ele é mais pesado e mais lento, não comercial", reclama Rodolfo.
O terceiro disco
"O próximo disco vai ser o mais pesado de todos. Queremos continuar fazendo 'hardcore', mas a maior característica do Raimundos é o peso", diz o vocalista. "Estamos fervilhando, precisamos entrar em um estúdio logo", completa Digão.
"Chega uma hora em que não aguento mais tocar as mesmas músicas, a turnê acaba me saturando. Mas, ao mesmo tempo que fico um pouco bitolado, adiando as idéias, também acho boa essa rotina porque represa os sentimentos. Quando chegamos ao estúdio, só sai coisa boa", afirma Canisso.
"O disco novo só pode ser mais pesado. Pode ver que cada dia a 'cozinha' (bateria e baixo) está mais pesada", ri Digão, ironizando as salientes barriguinhas de Fred e Canisso.

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