São Paulo, segunda-feira, 11 de novembro de 1996
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Casal 'foge' de volta ao Maranhão

RICARDO AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O assassinato do filho mais velho levou o casal Antônio Bandeiras Sobrinho, 53, e Benícia Fernandes Bandeiras, 50, a voltar para Bacabal, no Maranhão, de onde saíram há dois anos.
Junto com os outros quatro filhos e uma filha, arrumaram as malas e as amontoaram em uma caminhonete que, de tão lotada, dava a impressão de que tombaria na primeira curva.
Rigoberto Fernandes Bandeiras, 26, foi morto a facadas na noite de sábado, dia 2, por um grupo de homens que não chegou a roubar nada nem de seu pai nem de seu irmão Nei, 23.
Segundo relato de Antônio, os três caminhavam -Nei empurrava uma bicicleta- por uma quadra vizinha a que moravam, no Setor "O", um dos mais violentos da Ceilândia, cidade-satélite a 35 km de Brasília.
"Quando passávamos por uma esquina, um grupo de mais de dez homens nos atacou. Tentei defender meus filhos, mas não pude fazer nada", contou Antônio, motorista desempregado.
Ele não soube explicar o motivo da violência, provavelmente provocada por uma das gangues que proliferam nas cidades-satélites do Distrito Federal.
Os homens, segundo ele, jovens e "mais velhos", não disseram nada, não roubaram a bicicleta nem o violão que carregavam.
Rigoberto, que trabalhava como balconista em uma padaria, morreu no hospital e Nei conseguiu se recuperar da facada que levou no peito e chegou a perfurar seu pulmão. Ficou cinco dias internado.
O pai levou um soco na boca e tinha as mãos arranhadas pela luta. Já na caçamba da caminhonete, onde viajaria por mais de 1.800 km, Nei não quis falar.
Antônio lamentava ter de deixar Brasília. "Aqui é Primeiro Mundo, lá (no Maranhão) é Terceiro Mundo. Aqui você compra tudo mais barato, lá é mais caro e você não encontra as coisas", disse.
A mãe chorou bastante ao lembrar do filho morto. "Quero que a polícia encontre esses marginais, caso contrário eles vão continuar matando gente por aí", disse.
Rigoberto deixa uma filha, Vanessa, de dois anos de idade, que ficou com a mãe em Brasília.

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