São Paulo, segunda-feira, 11 de novembro de 1996
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Masp exibe 700 anos Itália

PAULO VIEIRA
EDITOR-ADJUNTO DA ILUSTRADA

O Museu de Arte de São Paulo (Masp) abre amanhã uma mostra de grande porte. "Arte Italiana em Coleções Brasileiras 1250-1950" tem 202 quadros, 17 esculturas e dezenas de cerâmicas, ditas maiólicas.
Além do valor estético -700 anos de arte contemplados-, a mostra tem um entrecho político. Luiz Marques, conservador-chefe do museu e historiador da arte especializado em Itália, quer chamar a atenção para a importância do Masp e, paradoxalmente, para os 37 anos que ele não amplia seu acervo.
É o primeiro ato da celebração dos 50 anos do museu, que serão completados em 97 com uma série de grande exposições (leia texto abaixo).
A mostra está dividida em seis seções. Começa no período tardo-medieval e o Renascimento e chega ao século 20, com modernistas como Modigliani, Morandi e De Chirico.
O Barroco tem o maior número de obras da mostra. "Devemos isso a Napoleão, que motivou a vinda da Coroa Portuguesa ao Brasil, e à Imperatriz Tereza Cristina, que gostava muito do barroco", diz Marques.
Concílio de Trento
Entre os destaques, estão principalmente obras do próprio acervo do Masp, como o "Retrato do Cardeal Cristoforo Madruzzo" -o anfitrião do famoso Concílio de Trento-, de Tiziano (1552), que agora volta à exibição, restaurado que foi pelo Getty Museum, de Los Angeles (EUA).
Há também o óleo sobre madeira "A ressurreição de Cristo", (datação oscilante entre 1499 e 1503), de Rafael. Mostrando que o Masp não tem artistas isolados do período -um problema de muitas coleções-, o mestre de Rafael, Pietro Perugino, é representado por "São Sebastião" (1505), cujas formas impressionam pela sutil deformação.
Entre as obras mais antigas em exposição, destaca-se a têmpera sobre madeira "Virgem em Majestade com o Menino e Dois Anjos", da segunda metade do século 13, atribuída ao Maestro del Bigallo, ativo em Florença.
Luiz Marques envolveu-se em 88 com o projeto. "É a exposição da minha vida", diz. Fez investidas em museus, fundações e coleções particulares, onde diz ter garimpado suas maiores surpresas. "Se fiz 50 visitas a particulares, apenas dois não quiseram emprestar obras", diz. "Felizmente, a comunidade italiana é bastante interativa."
Na semana passada, mantinha em sua sala algumas telas pertencentes a particulares que são a perfeita metáfora do museu -e possivelmente o leitmotiv da exposição. Uma imagem do século XVI da Madona com o Menino Jesus atribuída a Allore, de dimensões espetaculares e muito bem conservada, lhe havia sido ofertado pelo proprietário. Preço: R$ 70 mil.
"Uma Tomie Ohtake dessa dimensão talvez chegue a uns R$ 50 mil. O museu não tem dinheiro para comprá-lo."
Essa é justamente a área que Marques quer jogar luz com a mostra: "Considero extremamente grave que em 37 anos o Masp não tenha expandido seu acervo".
Marques refere-se a essa exposição como um marco paulistano. "A exposição não é minha, é da cidade. Os museus são símbolos da modernidade, são como as igrejas do passado. Não se pensa Nova York sem o MoMa ou Paris sem o Louvre ou o D'Orsay."
As comparações são elevadas, mas a exposição se contenta com peças em poder de brasileiros. "A arte italiana é muito bem representada, seja pelas peças do Masp, pelo Museu Nacional de Belas Artes ou mesmo por particulares. O Masp, também, tem grandes obras do século 20, são aquisições brilhantes de Ciccillo Matarazzo. Fazendo uma exposição dessa importância, também chamamos a atenção para as lacunas e, quem sabe, tentamos preenchê-las."
Documentação
Como resultado do trabalho de pesquisa, Marques deu início a um catálogo Raisonné -uma publicação de caráter documental que consolida a arte italiana em coleções particulares brasileiras.
Já foram editados os dois primeiros tomos (o acervo italiano do próprio Masp e parte do Museu Nacional de Belas Artes), com patrocínio dos mesmos apoiadores da mostra.
Para Marques, a exposição é um modo de recolocar o Masp em seu devido lugar. "Nenhuma coleção de museu é completa. A do Louvre não é. É da dinâmica dos museus ter coleções sempre inacabadas. É por isso que um museu que é considerado o maior da América Latina não pode ficar tanto tempo sem ampliar seu acervo."

Exposição: Arte Italiana em Coleções Brasileiras 1250-1950
Onde: Masp (Av. Paulista, 1578, tel. 011/251-5644)
Quando: ter a dom, 11h às 13h; às quintas, 11h às 20h. Até 26 de janeiro de 97
Quanto: R$ 5 (grátis às quintas)
Visitas monitoradas: apenas às quintas, em horários contínuos
Vernissage: amanhã, às 20h

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