São Paulo, segunda-feira, 11 de novembro de 1996 |
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Sellers subverte a ordem
INÁCIO ARAUJO
Segundo, porque é um filme de certa maneira superior a todas as "Panteras" que fizeram juntos. A diferença é que, aqui, parte-se de um enredo quase inexistente para uma espécie de celebração do burlesco. Estamos no império da gag. Se o inspetor Clouseau compunha, mal ou bem, um personagem, o ator indiano Hrundi V. Bakshi (Sellers) é sobretudo um exotismo levado a Hollywood para efeitos cômicos. Convidado meio por engano para uma festa, ele se empenha em acumular gag sobre gag, destruição sobre destruição. Não é gratuito. Ou antes, é como se Edwards postulasse a gratuidade como mecanismo de defesa contra o mundo utilitário que então se delineava (daí a figura distante de Bashki ser perfeita). Feito em 1968, o filme pode ser visto hoje como um correspondente íntimo de "A Laranja Mecânica", de Stanley Kubrick. Mas, enquanto Kubrick atacava a violência, a lavagem cerebral, a despersonalização, Edwards optava pelo riso. Com sua incompetência, Bakshi destrói um mundo de eficiência, mas nem por isso menos lamentável. O mesmo mundo que Kubrick -mais pessimista, mais realistaõ faz triunfar na "Laranja". (IA) Texto Anterior: CLIPE Próximo Texto: Giacometti traduz Dom Quixote em bronze Índice |
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