São Paulo, segunda-feira, 11 de novembro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Voto eletrônico, experiência que deu certo

EDUARDO AZEREDO

A avaliação positiva do eleitorado sobre o voto eletrônico (88,9% dos eleitores de Belo Horizonte acharam "fácil" ou "muito fácil" o uso da máquina de votar) e o índice relativamente baixo de problemas registrado com o novo sistema de votação (menos de 7% na capital mineira) mostram o sucesso de um projeto em que, como especialista em informática, acreditei há 22 anos.
Corria o ano de 1974, e eu -como funcionário da IBM- acompanhei o primeiro esforço no sentido de se implantar, no âmbito da Justiça Eleitoral mineira, um sistema informatizado de totalização dos votos da eleição daquele ano.
Em 1978 e 1982, pude constatar a validade da inovação, participando, como fiscal do MDB e do PMDB, da contagem computadorizada de votos para o Senado e para o governo de Minas.
Pouco depois (1985/86), eu, já presidente da Prodemge e da Associação Brasileira de Empresas Estaduais de Processamento de Dados, e com o entusiasmo do dr. Roberto Siqueira, do TRE/MG, pudemos participar diretamente do recadastramento geral do eleitorado brasileiro, promovido pelo TSE, que teve como resultado a erradicação do eleitorado "fantasma".
Para chegar ao voto eletrônico, muitos e grandes problemas tiveram de ser enfrentados. O processo exigiu contínuo aprimoramento, de acordo com a característica de cada eleição.
Acresça-se a isso determinação do TSE de que, para evitar discriminação de caráter regional, o sistema só fosse adotado quando sua implantação se tornasse possível em todo o país. Com o sucesso do teste deste ano, nas próximas eleições os brasileiros poderão utilizar esse moderno recurso.
Quais as vantagens do voto eletrônico? A primeira é de ordem econômica. A máquina de votar é de baixo custo e substitui, com redução de gastos financeiros, as tradicionais cédulas de papel.
Ela é também eficiente e rápida. Os poucos problemas ocorridos nas eleições de 3 de outubro foram, quase todos, decorrentes de falhas operacionais e não do funcionamento da máquina ou do programa de computador.
Outra vantagem é de ordem política. O número de votos brancos caiu da média de 12% em eleições anteriores para 2% na deste ano. O eleitor que tinha dificuldade de votar teve no voto eletrônico melhores condições de manifestar a sua preferência. Os erros e as possíveis fraudes que aconteciam com as cédulas tradicionais estão sendo relegados ao passado.
Há ainda um amplo caminho a ser percorrido no aperfeiçoamento do novo sistema. Por exemplo: o teclado plano, muito sensível, precisa ser substituído pelas teclas altas. Poder-se-á adotar, também, o cartão magnético ou de código de barras, em substituição aos atuais títulos eleitorais.
De uso muito difundido entre a população, que o utiliza largamente nas operações bancárias ou no ponto eletrônico das empresas, o cartão contribuirá para tornar ainda mais seguro e rápido o ato de votar.
Se, com o voto obrigatório, que leva às urnas pessoas de todos os níveis de escolaridade, a facilidade de votar foi reconhecida pela maioria esmagadora dos eleitores, imaginem-se -quando tivermos o voto facultativo- a rapidez e comodidade que serão proporcionadas àqueles que votarem exclusivamente por opção, por questão de conscientização política. Aí, então, se ressaltará aquela que deve ser a principal característica do voto: a democrática.
A máquina adotada no Brasil mostrou-se simples, funcional, confiável, imune a fraudes e já está sendo pretendida pelas autoridades eleitorais de outros países que aqui estiveram para acompanhar o seu funcionamento.
Estão de parabéns o TSE e os TREs, pela decisão de implantar o voto eletrônico e pelos resultados positivos alcançados em todas as seções informatizadas; a indústria, que desenvolveu com competência os equipamentos e programas, melhores do que muitos existentes no exterior; o povo brasileiro, que, com um mínimo de treinamento, demonstrou extraordinária capacidade de assimilação do novo sistema, garantindo assim que, nas próximas eleições, o voto eletrônico seja praticado pelos eleitores de todo o país.
Estaremos então numa era em que a tecnologia terá sido posta, em mais um aspecto de seus imensos recursos e potencialidades, a favor do ser humano, na satisfação de seus anseios e necessidades, em benefício da democracia.

Texto Anterior: PODER DA LEI; A CADA DIA
Próximo Texto: O MAC-USP e a Bienal de São Paulo
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.