São Paulo, terça-feira, 12 de novembro de 1996
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Sindicalistas da CUT têm novo confronto

FÁBIO ZANINI
DA AGÊNCIA FOLHA, NO ABCD

Cerca de 250 metalúrgicos de dois grupos rivais ligados à CUT (Central Única dos Trabalhadores) entraram em choque ontem em frente à fábrica da Cofap no bairro de Capuava (divisa entre Santo André e Mauá).
Uma hora antes do conflito, 12 balas disparadas por uma pistola automática atingiram o capô e destruíram o vidro dianteiro de um caminhão de som do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC.
Pouco depois, a explosão de uma bomba de fabricação caseira provocou ferimentos leves na mão e pé esquerdo do secretário da comissão de fábrica da Metal Leve -indústria de autopeças com unidade em São Bernardo-, Douglas David, 24. Outra bomba, também de fabricação caseira, foi lançada, mas não chegou a explodir.
Os tiros e a explosão da bomba ocorreram por volta das 11h45, quando o sindicato do ABC preparava-se para fazer uma manifestação em frente à Cofap com o objetivo de pressionar a empresa a negociar reposição salarial.
Naquele momento, havia apenas cerca de 30 pessoas no local, já que a manifestação estava marcada para as 13h. Nenhum dos responsáveis pelos tiros e pelas bombas foi reconhecido pelos presentes.
"Um grupo de umas dez pessoas veio correndo na direção do caminhão e parou a uma distância de uns três metros. Um deles disparou uma rajada, e todos saíram correndo", disse Marcelino Generali, 42, motorista do caminhão atingido pelos disparos.
"Por sorte eu estava dentro do baú (carroceria) do caminhão e não fui ferido. Se estivesse na cabine, teria sido baleado", disse.
Um grupamento de 30 policiais militares chegou logo em seguida ao local. Mesmo após o atentado, o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC insistiu em fazer a manifestação, o que provocou protestos de um grupo de cerca de 60 metalúrgicos ligados a uma ala dissidente do sindicato que estão acampados desde a semana passada no pátio interno da fábrica.
Os policiais não conseguiram evitar que os dois grupos da CUT entrassem em choque.
Os dissidentes lutam na Justiça desde março para criar uma nova entidade para os metalúrgicos de Santo André, Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra. Na prática, já funcionam como sindicato independente.
"Não tenho dúvida de que os responsáveis pelos tiros e pelas bombas foram os dissidentes", disse Luiz Marinho, presidente do sindicato do ABC.
O líder da ala separatista e presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Santo André e região, José Tomaz Neto, negou: "Ninguém de nossa militância utiliza armas, e eu nunca daria ordem para atirar. O sindicato do ABC não tem o direito de vir se intrometer na nossa base e atrapalhar as negociações".
Ele afirmou que "desconfia" que os tiros possam ter sido dados por seguranças da própria Cofap, hipótese descartada pela empresa.
O caso foi registrado no 3º DP de Santo André, que abriu inquérito.

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