São Paulo, quarta-feira, 13 de novembro de 1996
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Melhor peitar jararaca do que ver o Ratinho

BARBARA GANCIA
COLUNISTA DA FOLHA

Gugu Liberato deve estar se perguntando como é que alguém pôde realizar o incrível feito de superar as baixarias de seu programa dominical.
Mas o "190 Urgente", que vai ao ar no final da tarde na CNT, conseguiu o impossível. Nem mesmo o mundo cão do "Povo na TV", aquela pérola "wiltonfranqueana" dos primórdios da TVS, podia se gabar de tanta barbaridade concentrada em um só programa.
Apresentado por um brutamontes de nome Ratinho, que vem a ser filho do homônimo da dupla sertaneja, o programa, gravado em Curitiba, tenta ser uma versão paranaense do "Aqui Agora". Mas, perto dele, o "Aqui Agora" parece extraído da programação da Rede Vida.
Senão, vejamos: entre uma reportagem que pode mostrar closes de corpos das vítimas fatais de um acidente na BR-116 e outra trazendo algum título inspiradíssimo, como "Taradão Vira Mulher na Cadeia", o apresentador, uma espécie de protótipo mal acabado de Afanásio Jazadji, rebate críticas contidas nos fax enviados por telespectadores. Para uma criança que escreve dizendo que o pai não o deixa assistir ao programa, ele grita: "Vou falar diretamente com seu pai. Ô seu m..., deixa o moleque ver o programa!"
Corta e entram patrocinadores milagrosos, escolhidos a dedo: o Tiralcool, produto que diz eliminar o vício da bebida, e o Nicotil, que promete acabar com o hábito de fumar.
Volta Ratinho, histérico, dizendo que as autoridades deveriam dar atenção à superlotação nos presídios em vez de se preocupar com a "porra do casamento de homem com homem". Em seguida, em tom de revelação surpreendente, diz: "Quando o cara vai pra cadeia, a primeira coisa que os presos fazem é 'brruuup' no fiofó dele". Ele não merece o Prêmio Esso?
Se o leitor ainda não entrou em depressão profunda, me permito relatar mais um momento de glória colhido no "190 Urgente". Para um telespectador que gostaria de experimentar o "espetinho de gato do Ratinho", uma referência aos quitutes que ele fazia para sobreviver antes de se tornar o Silvio Santos da boca do lixo, Ratinho chuta: "Como é que ele sabe que é espetinho? Poderia ser espetão".
Pronto. Agora o leitor está liberado para pagar seus pecados na frente da TV.

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