São Paulo, quarta-feira, 13 de novembro de 1996
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O que vale é o ajuste para a Copa da França

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Não importa se nosso adversário desta noite é o time titular ou reserva de Camarões. No futebol esperto destes tempos, as diferenças ficam mais no plano da tradição do que no rés do gramado. Basta lembrarmos os sustos que nos deu o segundão da Lituânia (imagine!) ainda outro dia.
O que vale é ir treinando, ajustando, essa nossa seleção com os olhos voltados para a França. E é aqui que não entendo Zagallo: desde que assumiu, logo depois da Copa de 94, Zagallo preocupa-se em achar a formação ideal de meio-campo e ataque, exatamente no momento em que o Brasil vive um fastígio de armadores e atacantes.
Para essas quatro posições (dois meias e dois atacantes), assim de relance, pode-se cadastrar um time inteiro de craques -alguns consumados, outros em vias de se consagrar. Por exemplo: Djalminha, Rivaldo, Denílson, Palhinha, Giovanni, Juninho, Marcelinho, Leonardo, Beto, Bebeto, Romário, Edmundo, Ronaldinho, Luizão, Sávio, Donizete, Élber, Jardel, Paulo Nunes, sei lá quantos mais, sem contar os Oséas e Paulos Rinks que vão despontando por aí.
Contudo, desde a Copa de 94, quando o destino, em cima da hora, escalou nossa parelha de beques -Aldair e Márcio Santos-, viramos uma peneira lá atrás. Por incrível que pareça, seja qual for o adversário ou seu sistema de jogo, jogamos com os quatro zagueiros em linha -uma formação que já era anacrônica há vinte anos. E eles cortando nossa defesa como faca na manteiga.
E Zagallo, nem um pio a respeito. Até quando?
*
Dentre tantas alternativas para o meio-campo e ataque, Zagallo vai testar hoje uma formação interessante: Denílson, Djalminha, Giovanni e Oséas. Pena que Ronaldinho não tenha podido se apresentar, pois, se ele é, hoje, mais do uma certeza, seu substituto nesta noite é uma incógnita.
Isso vale também para Denílson, o outro estreante. Mas a fulminante ascensão desse menino de 18 anos, a disposição de luta e a rara habilidade que lateja na sua perna esquerda me animam a esperar muito dele. Se der certo, então, Zagallo estará se aproximando do ideal: três meias habilidosos e criativos (um deles, Denílson, também combativo) e um centroavante goleador.
Disse que estará se aproximando porque o ideal só será alcançado quando Zagallo tiver de achar um lugar para Leonardo nesse meio-campo. Não lhe restará, pois, outra alternativa, senão a de segundo volante, ao lado de Mauro Silva. Aí, então, teremos um toque tão refinado que a bola se desfará em ilusão diante do inimigo.
*
E Marcelinho está de volta, para gáudio da Fiel. Ainda, claro, à meia-força, assim como Neto, com quem deverá se revezar hoje, contra o Bahia.
Se conseguir passar pelo funil da classificação, e Neto entrar em forma, esse Corinthians vai dar o que falar na próxima fase.
*
O caso Ricardo Pinto foi a pá de cal: o futebol carioca, que havia perdido a classe, perdeu o juízo. Pode alguém, mesmo fanático, se emocionar com esse Fluminense, a ponto de linchar um adversário?

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