São Paulo, quinta-feira, 14 de novembro de 1996
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Síndrome de pai-mala

GUSTAVO BERG IOSCHPE
ESPECIAL PARA A FOLHA

A situação é a seguinte (e qualquer semelhança com a realidade não será mera coincidência): você trancado no quarto, bunda quadrada depois de horas de estudo. Calor infernal. Todos se divertindo. E você, ali, estudando a estrutura celular das briófitas.
Irrompe no seu quarto, de repente, o alegre pai. "Pô, filhão, ainda estudando? Para que estudar tanto? Esse negócio de vestibular é uma barbada, não precisa se matar. Você é jovem, por que não vai se divertir?"
Pronto, seu pai acaba de cometer o crime. Aí você fica nervoso, pressionado: se cair na tentação e largar os livros, sabe que as chances de passar diminuem; se continuar estudando, sente o peso da responsabilidade de não decepcionar ninguém.
Por isso, companheiro, preste atenção: o pai (ou a mãe) mala é um fenômeno constante em época de vestibular, e você tem de se livrar dessa influência negativa. Sua casa tem de ser uma fonte de apoio. Então, bata um papo com seus pais e mostre que você sabe o que está fazendo. Encha-os de gráficos, tabelas e fórmulas que você vai ter de decorar, mostre a relação candidato/vaga. Conte a história do cara que era primeiro na classe e foi reprovado. Liberte-se, em suma. Mesmo esses pais que confiam demais em você fazem mal. Mas pior mesmo é o pai-ditador, que diz quando você pode ou não sair; marca aula particular; confere o que você está estudando. Socorro!
Se estiver rolando algo desse tipo, dê um corte nesses malas. O primeiro passo é uma conversinha, como a anterior. Na maioria das vezes não adianta, porque esses pais acham que estão investidos de um dever, tipo "Eu sei o que é melhor pra você". Então parta para o contra-ataque. Em caso de pais separados, diga que vai morar com o ex. Use o cartão de aniversário da sua mãe como uma carta-protesto. Fale sobre o alto índice de suicídio de crianças japonesas por causa da pressão dos pais. Diga que você não aguenta mais e vai morar numa oca na Amazônia. Abale a confiança dos seus pais repressores. Uma hora eles param. Se não pararem, essa de ir morar numa oca, hem, quem sabe?

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