São Paulo, quinta-feira, 14 de novembro de 1996
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A bola é redonda para os dois lados

NELSON BIONDI

O pau que dá em Chico dá em Francisco. Esse ditado mostra bem como são as críticas ao papel e à importância do marketing político nesta campanha municipal. Críticas que, quase sempre, são feitas por quem não conseguiu usar bem as novas técnicas desenvolvidas para essa atividade.
Lembro-me do grande Dino Sani, que por bom tempo vestiu a camisa do meu Palmeiras. Um dia, a um repórter que lhe perguntou se a chuva forte não atrapalharia o time, respondeu, no seu estilo de drible curto e seco: "Está chovendo para os dois lados".
Agora, quando ouvimos essa saraivada de asneiras dizendo que o marketing político é o único e verdadeiro responsável pelas vitórias já conquistadas nestas eleições, mais uma vez podemos citar Dino Sani.
Se alguém se acha prejudicado porque o marketing político do adversário é melhor, não precisa chorar: basta fazer um melhor ainda. É só buscar no mercado os bons profissionais. Eles sabem que marketing político nada mais é do que a maneira mais adequada de apresentar aos eleitores as idéias e propostas de seu candidato; de identificar suas qualidades e dominar a linguagem dos meios de comunicação de massa; de, enfim, trabalhar em cima de verdades. Ninguém faz milagres, muito menos o marqueteiro.
Nos últimos dias do regime militar, a oposição, a caminho da vitória, tinha todos os elementos do marketing político, inteirinhos, a seu lado. Nessa época, os que hoje atacam o marketing político o achavam ótimo.
Eu, que vi tudo isso acontecer, agora estou vendo o contrário. Batido nas urnas, impossibilitados pela onda politicamente correta de dizer que o povo não sabe votar (no que, no fundo, eles acreditam), incapazes de reconhecer que são mesmo é ruins de voto, há gente dizendo que o marketing político distorceu o resultado destas eleições. A solução que esses senhores propõem é a mesma utilizada pela ditadura: impor compulsoriamente a chatice no horário eleitoral gratuito.
Muita gente não gosta do horário eleitoral, acha-o chato de qualquer jeito, mas essa é outra discussão. Se ele existe, se está na lei, deve ser bem-feito. É por isso que procuramos criar programas agradáveis, bem elaborados, modernos, em linguagem de TV. Quem souber fazer isso com competência, criará com certeza uma boa campanha.
E como seria o horário eleitoral proposto pelos derrotados? Simples: chato como eles. Outro dia, o líder do governo, deputado José Aníbal, me disse com todas as letras que, nas próximas eleições, a tendência era acabar com os comerciais ao longo da programação. Estariam "vendendo" uma imagem falsa dos candidatos. E como deveriam ser os programas? Engessados em um estúdio, sem externas, computação gráfica, vinhetas e, sabe-se lá, até sem "jingles". São regras que não seriam aceitas nem na campanha para a Prefeitura de Teerã.
Para usar a linguagem de José Aníbal, o marketing político distorce as mensagens partidárias. Suas excelências querem mesmo é que a palavra oficial, que eles produzem, venha a público sem nenhuma interferência de alguém que a torne mais compreensível e menos chata -o marqueteiro.
Houve um político que dizia que política era como nuvem: cada vez que olhava tinha uma forma diferente. Assim é, também, com as regras de campanha a cada eleição.
E é nessa tática que jogam os perdedores de agora. Querem mudá-las de novo, porque não souberam ganhar com as atuais. Já fizeram isso na eleição passada: como Lula vinha carregado de imagens de sua "caravana da cidadania", proibiram o uso de imagens na campanha. A idéia foi tucana, e o adversário de Lula também o era.
Agora é a mesma coisa, não por coerência ideológica, mas por conveniência política. Retoma-se a idéia, outra vez de um tucano, não por um pensamento mais profundo, mas por se considerar que o marketing político de Paulo Maluf e Celso Pitta foi mais eficiente. É por isso, só por isso, que querem impedir que o marketing político seja utilizado nas próximas eleições.
Como contribuição aos políticos que assim pensam, quero lembrá-los de que não houve marketing que fizesse o sucessor de prefeitos que não tivessem obras para mostrar, e não houve marketing que elegesse opositores de prefeitos com obras a mostrar.
Não basta falar; é preciso trabalhar. E o bom trabalho pode ser feito por qualquer um que esteja no poder, desde que para isso esteja preparado, saiba como fazer e tenha vocação para isso. Pode se chamar Chico ou Francisco.

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