São Paulo, sexta-feira, 15 de novembro de 1996
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Morre nos EUA líder moderado da igreja

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

O cardeal de Chicago, Joseph Bernardin, morreu ontem, 11 semanas após ter anunciado que sofria de câncer em fase terminal.
Nesse período, ele tentou fazer de sua agonia em exemplo para o país de como é possível transformar a morte em "uma amiga".
Bernardin, 68, era considerado uma das principais lideranças moderadas da Igreja Católica nos EUA. Seu nome chegou a aparecer em listas de possíveis sucessores do papa João Paulo 2º.
Em 1993, um homem chamado Steven Cook o acusou de abuso sexual. Dias após o firme desmentido de Bernardin, Cook retirou a acusação e pediu desculpas. Bernardin estava ao seu lado quando Cook morreu, de Aids, em 1995.
Filho de imigrantes do norte da Itália, Bernardin nasceu na Carolina do Sul, Costa Leste dos EUA.
Ele se ordenou padre em 1952 e, em 1966, se tornou o mais jovem bispo do país. Dois anos depois, foi eleito secretário-geral da Conferência Nacional dos Bispos, cargo que ocupou por quatro anos.
Antes de ser nomeado cardeal-arcebispo de Chicago, em 1982, foi arcebispo de Cincinnati, Ohio, Meio-Oeste do país. Chicago tem a segunda maior concentração de católicos do país (2,3 milhões), apenas atrás de Nova York.
Sucessor em Chicago do cardeal John Cody, famoso pelo autoritarismo conservador com que governou os católicos locais por dez anos, Bernardin conseguiu sanear as combalidas finanças da arquidiocese e aumentar o seu decrescente número de fiéis e sacerdotes.
Entre suas posições controvertidas, Bernardin advogava papel mais relevante para mulheres na hierarquia da igreja, tolerava programas de prevenção à Aids que incluíssem instruções sobre o uso de preservativos e condenava qualquer uso de armas nucleares.
No dia 7 de novembro, ele enviou à Suprema Corte dos Estados Unidos uma carta para pedir que qualquer forma de eutanásia ou suicídio assistido por médicos permaneça ilegal no país.
"Eu tenho contemplado muitas coisas nestes últimos meses. Como alguém que está morrendo, adquiri especial apreço pelo dom da vida", escreveu ele aos juízes que vão decidir nos próximos meses a constitucionalidade de leis que regem o assunto em vários Estados.
Dias depois, ele acompanhou um condenado à morte, Raymond Lee Stewart, em seus últimos momentos de vida. "Num certo sentido, estamos no mesmo barco", disse Bernardin a Stewart, condenado por seis homicídios.
Horas antes de morrer, Bernardin falou por telefone com o papa João Paulo 2º e com o presidente Bill Clinton.
(CELS)

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