São Paulo, domingo, 17 de novembro de 1996
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A literatura segundo Sérgio Buarque

ADRIANO SCHWARTZ
DA REDAÇÃO

O lançamento dos dois volumes de "O Espírito e a Letra", provável reunião da totalidade da crítica literária de Sérgio Buarque de Holanda (1902-1982), é daquelas ocasiões em que a atitude nada literária -nem saudável, aliás- de soltar rojões talvez seja válida.
Se tivesse escrito apenas "Raízes do Brasil", sua obra-prima, o historiador já teria inscrito seu nome entre os grandes intelectuais brasileiros do século. Mas, como as mais de mil páginas dos dois livros mostram, ao retomar um lado menos lembrado de Sérgio Buarque, ele fez muito mais.
Organizado por Antonio Arnoni Prado, professor de literatura brasileira da Universidade de Campinas, "O Espírito e a Letra" traz textos escritos entre 1920 e 1959 -quase todos para jornais (leia abaixo um dos mais importantes).
Há, dentre eles, os mais variados assuntos: análises da própria crítica; comentários sobre Proust, Gide, Pound, Melville, Machado de Assis, João Cabral, Carlos Drummond, Manuel Bandeira e muitos outros autores brasileiros e estrangeiros; e até uma entrevista em que Thomas Mann fala de suas ascendência brasileira (editada anteriormente em "Raízes de Sérgio Buarque de Holanda" -Rocco, 1989).
A obra comemora os dez anos da Companhia das Letras e será lançada, só para convidados, no dia 22, sexta-feira, no Masp (Museu de Arte de São Paulo), com a presença do organizador da edição, do crítico Antonio Candido e do compositor e cantor Chico Buarque, filho do historiador.
As três fases
A primeira é a do jovem crítico, ainda um pouco pedante em sua escrita, muito preocupado com a integração da América Latina; a segunda acontece quando ele é "atropelado" pelo movimento modernista de 1922, ao qual logo adere, tornando-se um modernista militante; e a terceira, após uma longa estada na Europa, a de um crítico já maduro, com importante bagagem acadêmica e de leituras, muito interessado na interpretação cultural do Brasil e nas funções que a literatura poderia exercer naquele momento, além de buscar estabelecer um diálogo entre os modernistas e a "geração de 45" da poesia brasileira.
Principalmente nesta terceira fase, quando substituiu o escritor Mário de Andrade no rodapé do "Diário de Notícias", do Rio de Janeiro, Sérgio Buarque, apesar de não se considerar propriamente um crítico, manipulava com profundo conhecimento as mais diversas correntes críticas, da estilística de Auerbach aos mais importantes representantes do "new criticism" norte-americano. Como diz Arnoni Prado, "ele era muito eclético, não se filiava a nenhuma tendência e, ao mesmo tempo, aproveitava tudo de todas".
Era, em suma, um homem sobre quem, como lembra Arnoni Prado na introdução da obra, o crítico Antonio Candido disse: "Você sente que para explicar aquele texto curto de 14 versos ele mobiliza a civilização do Ocidente".

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