São Paulo, domingo, 17 de novembro de 1996
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Homem fica "órfão" de avós

DO "LIBÉRATION"

Enfim, onde o ser humano, os nossos ancestrais, deu seus primeiros passos? "Nas savanas africanas", era a resposta habitual, nessas planícies de gramíneas e algumas poucas árvores pequenas. Era a "East Side Story" (História do Lado Leste, paródia do musical de Leonard Bernstein "West Side Story"), popularizada pelo paleontólogo francês Yves Coppens.
O roteiro desses tempos antigos era simples. Depois de ter vivido muito tempo no berço africano, espécie de paraíso com uma floresta cerrada e cheia de frutas, nossos ancestrais macacos tiveram que lidar com uma enorme crise geológica há cerca de 8 milhões de anos.
O vale do Rift afundou, criando uma gigantesca falha que isolou o leste da África, uma linha de 3.000 quilômetros que vai da Eritréia ao Malaui. Por causa disso, o clima e a ecologia dessa região foram completamente modificados. Nossos ancestrais -um tipo de macaco ainda desesperadamente procurado- também foram divididos entre essas duas novas regiões.
O oeste africano foi coberto por uma floresta úmida. Lá cresceram os antecessores dos chimpanzés e dos gorilas, que caminham sobre quatro patas. Do lado leste, a savana e o clima seco teriam composto o ambiente onde se desenvolveram os pré-homens, os hominídeos, que procuravam se equilibrar sobre duas patas -o caminho para se tornar homem, esse animal com dedos paralelos.
Mas por que o homem ficou de pé? Porque, em um meio aberto, como a savana, seria melhor estar ereto para enxergar as presas e predadores, para transportar suas crianças e comida. Até Darwin já o havia dito.
Mas -pena- essa bela história não se mantém mais de pé. "Acabou o paradigma da savana. É preciso procurar outra base de explicações", diz o paleontólogo sul-africano Philip Tobias.
Os últimos estudos mostram que os pré-chimpanzés andavam e os pré-homens também viviam fora da savana. Isto é, não se tem mais certeza sobre o berço do homem, nem sobre qual dos hominídeos deu origem ao tronco humano.
"Acabou essa visão de que os hominídeos seriam grandes macacos que teriam acabado por se adaptar perfeitamente à savana, se tornando bípedes", diz o paleontólogo francês Pascal Picq, professor do Collège de France, que organizou o colóquio da Sociedade Francesa de Primatologia, realizado no final de outubro, que tratou do assunto.
"A adaptação ideal é um fantasma. Veja os babuínos. Eles se viram muito bem na savana e se movem sobre quatro patas", diz Picq.
Tanto barulho se deve ao fato de que, nos últimos dois anos, aumentou o número de fósseis de hominídeos disponível. O resultado disso é que também foi multiplicado o número de candidatos ao papel de pai do Homo sapiens com idade entre 3 milhões e 4 milhões de anos. E mais: os "novos" candidatos moravam tanto no clima seco como na floresta úmida.

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