São Paulo, terça-feira, 19 de novembro de 1996
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Tímido, Souza pede chance ao clube

JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
DA REPORTAGEM LOCAL

Rompido com o técnico Nelsinho, o meia Souza, 21, esteve ontem no Parque São Jorge para conversar com a direção corintiana.
O atleta esperou uma hora até a chegada do diretor Jorge Neme, que o avisou da multa de 40% do salário (R$ 25 mil por mês) por ter abandonado a concentração sexta.
Como o presidente Alberto Dualib, o vice de futebol José Mansur e o diretor Wadih Coury não apareceram no clube, a decisão sobre o futuro de Souza ficou para hoje.
"Quero ficar no Corinthians. Espero ter nova chance, porque nunca dei problema. Sou tímido, bem-comportado", disse Souza.
O jogador retorna hoje ao clube para conversar com Nelsinho e a diretoria. Segundo Neme, a decisão será do treinador. De acordo com Nelsinho, no entanto, quem decide é a diretoria.
*
Folha - Como foi seu desentendimento com o técnico Nelsinho?
Souza - Na quinta-feira, dia seguinte do jogo contra o Bahia, pedi para ser dispensado do treino porque estava com dores musculares.
Na sexta, ele teve uma conversa nada agradável comigo. Foi grosso, alterou a voz... Como eu fiquei muito chateado, decidi sair da concentração à noite.
Folha - Você chegou atrasado ao treino na sexta?
Souza - Não. Cheguei às 9h15, 9h20 e o treino só começava às 9h30. E se tivesse chegado atrasado seria algo tão grave? Com o trânsito de São Paulo, qual trabalhador nunca chegou atrasado?
Folha - É verdade que na quinta, véspera do treino, você foi à uma boate em Americana?
Souza - Eu fui à noite a um clube, mas agora começam a inventar besteiras, que eu briguei, coisas assim. Houve uma briga no clube, mas eu não estava no meio.
Depois eu ajudei um amigo meu que se machucou na confusão.
Folha - O que o Nelsinho falou que deixou você aborrecido?
Souza - Disse que eu iria para a reserva, mas depois começou a me insultar, levantou o tom da voz. Ele me chamou de louco, falou que seria mais louco ainda. Eu não sou louco. Louco é ele.
Folha - Suas atuações têm sido muito contestadas, há quem ache que seu futebol some em momentos importantes...
Souza - Reconheço que não estava numa fase boa, mas não posso admitir ser insultado.
Folha - Você já tinha discutido alguma vez com o Nelsinho?
Souza - Não, nunca. E não tinha nada contra o Nelsinho. Sou tímido, bem-comportado.
Folha - Mas abandonou a concentração sem dar satisfações...
Souza - É verdade. Errei. Minha atitude não foi normal, mas, no momento, pareceu ser a única possível. Pensei muito na situação, nas consequências, mas acontece que fui desrespeitado, ofendido.
Não é por alguém ser chefe que tem direito de falar o que bem entende, ofendendo os outros.
Folha - Há clima para você continuar trabalhando com o Nelsinho?
Souza - Não sei, nós ainda não conversamos. Problemas assim só são resolvidos com diálogo.
Folha - Você pretende continuar no Corinthians?
Souza - Quero ficar no Corinthians. Espero ter nova chance, porque nunca dei trabalho. Agora eu já estou adaptado ao clube e teria problemas para me acostumar em outro time. Tenho contrato até o mês que vem e quero ir até o fim.
E não é verdade que eu tenha sido procurado por outros clubes. Só saí da concentração por me sentir muito ofendido.
Folha - Sua imagem não fica prejudicada com o episódio? O Arílson, que abandonou a seleção brasileira no Pré-Olímpico sem dar satisfações, nunca mais foi convocado pelo Zagallo...
Souza - É uma coisa que me preocupa, mas espero que as pessoas entendam. Estou dando minha versão. O que você faria se fosse ofendido como eu fui? Não dava para ficar quieto. Não dava.

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