São Paulo, quarta-feira, 20 de novembro de 1996
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Jackson nega racismo de consulado

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA; DA SUCURSAL DO RIO

O reverendo Jesse Jackson, um dos principais líderes negros norte-americanos, disse ontem que o menino Carlos Alexandre Rossi, 6, não foi vítima de racismo.
Carlos, que pretendia estudar nos Estados Unidos, teve o visto de entrada no país negado pelo consulado do Rio de Janeiro.
"O que aconteceu foi um problema técnico, não de racismo", afirmou.
Jackson, que está no Brasil participando da Semana da Consciência Negra, disse ter conversado com o embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Melvin Levitsky, para saber o que houve.
O reverendo, que exerce o cargo de senador-observador, sem direito a voto, ficou convencido de que os pais de Carlos não prestaram todas as informações ao consulado para a emissão do visto.
"A política do presidente Bill Clinton é de inclusão. Por isso ele foi reeleito", disse.
Segundo ele, os EUA têm uma das políticas mais liberais com relação à imigração.
Jackson reconheceu que pode haver posições diferentes dentro do próprio governo, o que, para ele, é normal em um regime democrático.
O Ceap (Centro de Articulação de Populações Marginalizadas) está tentando marcar para domingo, no Rio, um encontro entre Carlos e Jackson.
"Seria uma forma de chamarmos a atenção para a discriminação racial no Brasil", afirmou o diretor-executivo do Ceap, Ivanir dos Santos.
O pai do garoto, Luiz Carlos Rossi, 48, disse acreditar que o encontro poderia facilitar a concessão do visto para seu filho. "O Jesse Jackson é americano, tem prestígio e já sentiu na pele o preconceito."
Novo pedido
O consulado dos Estados Unidos no Rio aguarda novo pedido de visto para Carlos. Segundo o cônsul norte-americano para assuntos de imprensa, Michael Hahn, o caso só voltará a ser analisado após o novo pedido.
O menino tinha viagem de estudos de inglês na Flórida prevista para janeiro.
O pai dele disse que deve entrar amanhã com novo pedido de visto para o filho.
Rossi é fiscal de renda e trabalha em Queluz (220 km a nordeste de São Paulo). Ele explicou à Folha que pretende aproveitar a folga que terá amanhã para cuidar do assunto.
Rossi disse esperar que a repercussão do caso facilite a concessão do visto. "Acho que o consulado vai sentir a pressão."
Segundo o consulado, a decisão deve sair no mesmo dia em que a nova solicitação for feita, pelo fato de o caso já ser conhecido.
O pai acusa as autoridades consulares de negarem o visto nas duas tentativas anteriores pelo fato de Carlos ser mulato.

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