São Paulo, quarta-feira, 20 de novembro de 1996
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A luta da Açominas

LUÍS NASSIF

Quando se fazem privatizações com critérios políticos, aumenta-se o risco do insucesso. É o caso da Açominas, a siderúrgica mineira, que acabou vítima de enorme calote aplicado pela Siderúrgica Mendes Júnior.
A Açominas foi adquirida por um consórcio liderado pela Mendes Júnior e fortemente amparado pelo governo mineiro. Julgava-se que, se seu controle fosse adquirido por consórcio de fora, haveria o esvaziamento econômico do Estado.
A idéia era proceder a uma futura fusão entre a Açominas e a Mendes Júnior (que era sua maior cliente), resultando no maior complexo siderúrgico de aços não-planos do país.
Em meados de 1994, quando auditores entraram nas contas de ambas as empresas, para estabelecer a equivalência patrimonial, descobriu-se que os executivos da Mendes Júnior haviam desviado da Açominas o equivalente a US$ 400 milhões.
A fusão melou e uma duríssima reunião de acionistas determinou o afastamento da Mendes do bloco controlador. Foi feita uma renegociação das dívidas, dando um ano de prazo para a Mendes Júnior começar a quitar seus débitos.
Passou um ano, e obviamente nada foi feito, obrigando a Açominas a uma dura luta por sua sobrevivência.
Reestruturação
A presidência foi entregue a Luiz André Ricco, que foi responsável pela privatização do setor siderúrgico no governo Collor.
A estratégia de recuperação consiste de três etapas.
Na primeira, tratou-se de melhorar a margem operacional, inclusive recorrendo-se pesadamente ao sistema de gerenciamento pela qualidade total.
De novembro de 1994 até agora os custos operacionais caíram 24% e os preços subiram 4%.
O segundo passo foi esticar o perfil da dívida. Foram realizadas operações de securitização de dívida no exterior que permitiram à companhia captar US$ 400 milhões, substituindo o endividamento de curto prazo (que custava 50% ao ano) por um de longo prazo, a 8% ao ano.
O terceiro passo será a busca de sócios. Além de recursos para capital de giro, a companhia necessita de investimentos da ordem de US$ 500 milhões, US$ 200 milhões dos quais para melhorar sua tecnologia.
Nos próximos meses, se aprofundarão os estudos, pensando em três alternativas. A primeira, de associação com um grupo estrangeiro. A segunda, de fusão ou associação com grupos nacionais. A terceira, de captação pura e simples de recursos no mercado.
Mosconi
Atendendo a convite do presidente da República Itamar Franco, o médico Carlos Mosconi trocou consultório que lhe rendia US$ 7 mil mensais por cargo no governo com salário de pouco mais de US$ 1 mil.
Como compensação, solicitou a possibilidade de continuar atendendo a seus pacientes nos finais de semana. E de indicar sua secretária para cargo de confiança do Inamps, já que nos fins-de-semana ela cuidaria também de sua agenda de presidente do órgão.
Na função, comandou a extinção do Inamps, abrindo mão espontaneamente do poder de nomear dezenas de pessoas para cargos politicamente mais cobiçados da República, e administrar verbas bilionárias.
Pergunto: é correto que se proceda à execução sumária da reputação de Mosconi, tomando-se isoladamente a nomeação da secretária, sem levar em conta as demais circunstâncias?
Penso que não.
Foi esta minha posição há cerca de quatro anos, quando teve início campanha sibilina alimentada por quadros do antigo Inamps contra Mosconi.
E foi este o alerta reiterado na segunda-feira passada para impedir que, desavisadamente, houvesse uma segunda condenação de um homem de bem.
A reação pretensamente superior e paternalista de Janio, às críticas, é maneira simples de fugir ao mérito da questão.

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