São Paulo, quinta-feira, 21 de novembro de 1996
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Falta vacina tríplice em 26 Estados

MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL

Falta vacina tríplice em 26 dos 27 Estados, segundo um documento do Ministério da Saúde. Em São Paulo, único Estado em que não há falta, a vacinação foi suspensa.
A tríplice provocou reações em 12 crianças no Estado. Duas delas tiveram convulsão, uma reação inesperada (leia texto abaixo). A tríplice imuniza contra tétano, coqueluche e difteria, que em 1993 mataram respectivamente, 400, 35 e 23 pessoas. O ministério não tem estatísticas mais recentes.
Segundo o ministério, o déficit de vacinas neste trimestre em 26 Estados é de 2.234.000 doses.
Maria de Lourdes de Souza Maia, 46, diretora do Programa Nacional de Imunizações do Ministério da Saúde, diz que, em muitos casos, "é uma falta entre aspas".
"Falta tríplice na maioria dos Estados, mas alguns têm estoque antigo", afirma. Ela citou um único exemplo: Sergipe.
Claudio Amaral, 62, diretor do Centro Nacional de Epidemiologia, diz que o ministério tem 3.394.500 doses e recebe nesta semana mais 7 milhões.
As vacinas tem de ser enviadas aos Estados, que as redistribuem. O processo para chegar ao posto de saúde pode demorar 60 dias.
Segundo ele, só São Paulo, Minas, Bahia e Mato Grosso do Sul receberam doses porque os demais Estados ainda não comunicaram suas necessidades.
Parte das doses em estoque tem de passar pelo controle de qualidade, o que demora 30 dias. "A falta de vacina é temporária. É o tempo do controle", afirma Amaral. Têm de ser vacinadas as 4 milhões de crianças que nascem anualmente.
Razões do atraso
Falta vacina porque houve atraso na escolha do fornecedor. Em 2 de abril último, o ministério comprou 15 milhões de doses de um laboratório chinês representado por uma empresa de Miami que atua na área de bares e restaurantes, diz Edmundo Juarez, 68, presidente da Fundação Nacional da Saúde.
O braço brasileiro do consórcio sino-americano, a empresa Sainel, oferecia a dose a R$ 0,057. Nos laboratórios que ficaram em segundo e terceiro lugares, o preço subia a R$ 0,080 e R$ 0,085. Eram, respectivamente, Serum Institute (Suíça) e Indian Institute (Índia).
Pelo cronograma, as vacinas chinesas deveriam chegar ao Brasil entre maio e junho deste ano.
O laboratório não conseguiu atender o pedido, mas só foi desclassificado em 9 de setembro. Os segundo e terceiro colocados assumiram o fornecimento. Resultado: a entrega da vacina aos Estados atrasou quatro meses.
Juarez, da Fundação Nacional de Saúde, afirma que desconfiava da empresa de Miami, mas não pôde excluí-la porque "a lei não permite": ela oferecia o menor preço.
Contribuiu para o atraso, diz ele, o assassinato do dono da Sainel, empresa que representava a MD2 americana e o laboratório chinês. A morte de Alcides José Peres, no dia 24 de abril, não foi esclarecida.

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