São Paulo, quinta-feira, 21 de novembro de 1996
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Rappers são presos por insultar polícia

BETINA BERNARDES
DE PARIS

A condenação à prisão determinada pela Justiça de Toulon dos cantores do grupo de rap francês NTM ("Nique ta Mère", que se traduz "Foda-se sua mãe"), por insulto à polícia, mobiliza os meios políticos, culturais e estudantis da França.
É a primeira vez no país, desde 1828, que há condenação do tipo.
O motivo: "Ultraje a pessoas depositárias da autoridade pública no exercício de suas funções, pronunciando, designando a um público de vários milhares de pessoas propósitos injuriosos".
Em 14 de julho do ano passado, uma apresentação do grupo em Seyne-sur-Mer reuniu 10 mil pessoas. Eles foram convidados pela organização SOS Racismo. O show aconteceu pouco após Jean Marie-Le Chevallier, da Frente Nacional (partido de extrema direita), ser eleito prefeito de Toulon.
Diante dos 26 policiais do comissariado de Seyne, os dois cantaram: "Foda-se tua mãe/ Eu 'insulto' a polícia/Eu fodo e piso na Justiça/Onde estão esses fodidos de azul (cor do uniforme da polícia) e a Justiça, que nos enchem o saco todo o ano?/A polícia, eles são fascistas/São eles que assassinam/Os fascistas estão em Toulon/...Eles estão vestidos de azul/Eles não estão longe da traseira de vocês/Na entrada/Vocês vêem de quem quero falar".
A Federação Profissional Independente da Polícia e a Federação Autônoma dos Sindicatos de Polícia prestaram queixa após o show.
Na noite da última quinta-feira, Bruno Lopes e Didier Morville, conhecidos como Kool Shen e Joey Starr, foram condenados pelo Tribunal Correcional de Toulon a seis meses de prisão, dos quais três em regime fechado, e seis meses de proibição de cantar na França.
O presidente da União pela Democracia Francesa, partido de centro-direita, François Léotard, falou em "excelente decisão".
O prefeito de Toulon aplaudiu a condenação. "É preciso respeitar os policiais. Essas incitações à morte são escandalosas", disse, acrescentando que gostaria que "Nique ta Mère" fosse proibida.
Mas, para o presidente da Liga dos Direitos do Homem, Henri Leclerc, "escandalosa" é a condenação. "Não posso dizer que aprovo os propósitos do NTM, mas uma pena de prisão fechada é grave para a liberdade de expressão e criação artística."
O ministro da Cultura, Philippe Douste-Blazy, disse que respeita a decisão da Justiça, mas afirmou que continuará "a defender a liberdade de expressão". No sábado, o ministro da Justiça, Jacques Toubon, disse que pediu ao Ministério Público que apele da decisão.

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