São Paulo, quinta-feira, 21 de novembro de 1996
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Saúde e Chomsky

ELEONORA DE LUCENA

São Paulo - O mais novo escândalo da saúde está na primeira página desta edição. Está faltando vacina tríplice. Milhares de crianças do Brasil não estão sendo imunizadas contra difteria, coqueluche e tétano. Parece notícia do início do século.
Falta vacina nos postos públicos. Quem pode pagar compra a vacina em instituições particulares. Lá não há falta.
Como já aconteceu nos outros capítulos da tragédia da saúde deste ano, os pobres são sempre os mais afetados. São os que só podem usar os serviços públicos ou os mais baratos. São as vítimas da sucessão de casos que misturam incompetência, desconsideração ou má-fé.
Em Caruaru (PE), 60 pessoas morreram em função de negligência nas sessões de hemodiálise. No Rio de Janeiro, foram 99 os mortos na clínica geriátrica Santa Genoveva. Em Boa Vista (RR), 33 bebês morreram. Em Niterói (RJ), 10. Em Fortaleza (CE), 49.
No caso de Fortaleza, as mortes ocorreram entre prematuros e outros bebês que precisavam de atenção especial do hospital (estatal) superlotado. O secretário de Saúde do Ceará diz que os hospitais particulares não querem internar os casos de gravidez de risco. Sobra para o hospital público. Que não tem espaço para todos.
"Infelizmente, esses hospitais (privados) são regidos pela lógica do lucro, e esse tipo de gravidez não se enquadra nessa lógica", declarou o secretário Anastácio de Souza.
O desabafo de Souza me fez lembrar o ataque feroz que Noam Chomsky fez, nesta semana, contra a "ordem das coisas". Visitando o Brasil, o controvertido linguista do Massachusetts Institute of Technology (EUA) reafirmou sua conhecida raiva: "O que existe hoje é um capitalismo de Estado, que aplica o socialismo para os ricos e o capitalismo para os pobres".
Será que o autodenominado anarquista antiquado não tem uma pontinha de razão se o caso é saúde no Brasil?

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