São Paulo, sexta-feira, 22 de novembro de 1996 |
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Húngara joga para demolir superioridade masculina
JOSÉ ALAN DIAS
Polgar, 20, ocupa a 18ª colocação no ranking da Fide (Federação Internacional de Xadrez). É considerada a melhor jogadora de todos os tempos e a única presente entre os cem melhores do ranking. E aspira ser a número um, superando os campeões mundiais, Anatoly Karpov e Garry Kasparov. "Até agora, meus resultados foram bons. Quero melhorá-los pouco a pouco. Mas é claro que ser a número um do mundo é meu objetivo." Polgar acredita que um dia o computador vencerá o homem. "Isso não significa que o xadrez vai deixar de ser interessante." A trajetória de Judit Polgar está diretamente ligada ao trabalho feito por seus pais, Laszlo e Klara (leia texto nesta página). Sua irmã Zsuzsa, 26, é a atual campeã mundial feminina. Ela ganhou o título da chinesa Xie Jun, em fevereiro deste ano. A outra irmã, Zsofia, 22, está entre as melhores no feminino. Judit Polgar chega hoje a São Paulo, acompanhada de Zsofia. Ela disputará, de segunda-feira até sexta-feira, uma série de partidas contra o brasileiro Gilberto Milos, 55º no ranking da Fide. Por telefone, de Nova York, Judit Polgar concedeu a seguinte entrevista à Folha: * Folha - Qual sua opinião a respeito de uma possível inclusão do xadrez como esporte olímpico? Judit Polgar - É o sonho de todo jogador. Isso seria fantástico para o xadrez e para outros esportes também porque o xadrez é um jogo muito legal. Só não creio que aconteça agora (em Sydney-2000). Talvez só em 2004. Folha - Você está bem posicionada no ranking. Quais são seus planos? Ser o número um? Polgar - Bem... Até agora, meus resultados no xadrez foram bons. Quero ir melhorando pouco a pouco, mas é claro que esse é meu maior objetivo. Folha - Você sofre algum tipo de discriminação por estar competindo contra homens? Polgar - Não, um pouco. Antes havia muito mais (discriminação). Hoje, eu acho que não mais; não comigo. Folha - Com que idade você começou a jogar? Polgar - Cinco anos. Folha - Já pensou em quando pretende parar? Polgar - Não estou pensando nisso ainda. Talvez algum dia eu tenha um marido e uma família. Mas tenho certeza de que isso está longe. Folha - O que você pensa a respeito das partidas entre seres humanos e computadores? Polgar - Os computadores estão se desenvolvendo muito rapidamente e, no futuro, eles ganharão dos seres humanos. Mas não significa que o xadrez vai deixar de ser interessante. Folha - Você já enfrentou computadores? Polgar - Sim, mas não seriamente. Na última vez, eu ganhei. Folha - Tem vontade de jogar, por exemplo, contra Deep Blue (computador desenvolvido pela IBM e que perdeu por 3 a 1 uma série de partidas contra Garry Kasparov, campeão da Associação dos Jogadores Profissionais)? Polgar - De certa forma, eu até gostaria, porque é um jeito diferente de pensar. Computadores jogam bem, mas de uma forma muito estranha. Numa partida eles vão muito bem, em outras nem tanto. Folha - Qual foi seu maior adversário até hoje? Polgar - Difícil de responder. Tive muitos oponentes difíceis. Prefiro não falar. Folha - Você tem algum ídolo? Polgar - Não, realmente. Não tenho ídolos específicos. Folha - Seu pai tem a teoria de que é possível desenvolver grandes talentos a partir do modo com que se educa uma criança. Você acredita nisso? Polgar - Sim, acho que meu pai está certo. Folha - E quanto ao fato de ter sido educada em casa. Não ter frequentado escolas. Você se sente diferente das outras pessoas? Polgar - Sim, sou diferente, mas não tanto. Isso acontece porque minha vida também foi diferente. Não fomos à escola, e minha irmã Szuzsa começou a jogar em torneios masculinos. Meu pai não a deixava competir com mulheres porque o nível não era tão alto. Meus pais tiveram muitos problemas com o governo e com a federação de xadrez por causa da forma com que fomos educadas. Folha - Como é sua rotina de treinos? Polgar - Treino todos os dias, seis, sete horas. Às vezes, treino com minhas irmãs; outras vezes, sozinha, ou então com o "trainer". Eu também uso computador, todo jogador profissional usa. Folha - Você tem algum hobby ou gosta de um outro esporte? Polgar - Vou ao teatro na Hungria e, quando tenho tempo, assisto a algum filme. Também gosto de outros esportes, mas nenhum especialmente. Gosto de assistir às competições. Texto Anterior: Pelé técnico? Próximo Texto: Enxadrista é educada pelos pais para ser 'gênio' Índice |
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