São Paulo, sexta-feira, 22 de novembro de 1996 |
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'Cantando na Chuva' traduz euforia de viver
INÁCIO ARAUJO
Alegria do cinema, primeiro. Estamos em 1927. Don Lockwood (Gene Kelly) e Lina Lamont (Jean Hagen), dupla de sucesso, prepara quase burocraticamente mais um de seus filmes mudos, quando a Warner lança "O Cantor de Jazz" e muda a história do cinema. O resultado é constrangedor. Os ruídos saltam descontrolados da tela, percebe-se que Lina Lamont tem uma péssima voz. Que fazer? A idéia vem de Cosmo Brown (Donald O'Connor), comparsa de Gene Kelly: transformar a história em um musical. Operar esse milagre implica introduzir na trama Kathy (Debbie Reynolds), uma candidata a atriz com uma bela voz, que será encarregada de dublar Lina. Em linhas gerais, o momento de passagem do mudo para o sonoro está condensado em "Cantando na Chuva". Desde problemas técnicos até pessoais (Lina Lamont sintetiza uma série de atores que não passaram para o sonoro). "Cantando na Chuva" compõe a mais eufórica história de amor, tendo como ponto alto a dança de Gene Kelly sob a chuva. Momento de encanto que resume toda a alegria de um homem. Mesmo antes de chegar aí, o filme é pródigo em euforia. Seja ao evocar o cinema ou ao criar um hábil jogo em que história e ilusão se tocam quase todo o tempo. É o momento em que o cinema dobra-se sobre si mesmo, reflete sobre seu passado e medita sobre o que pode legar ao futuro. É também obra de uma América que saía da Segunda Guerra Mundial confiante em seus valores. É verdade que, ao mesmo tempo, uma "caça às bruxas" acontecia, atingindo Hollywood mesmo. E que o fantasma do comunismo ratificava essa confiança. E ainda que uma nova geração de realizadores (Nicholas Ray, Kazan etc.) trocava o otimismo por uma visão crítica dos EUA, do homem. É claro que isso não está em "Cantando na Chuva". Um filme não pode ser tudo. E o que este é já não é nada pouco. Filme: Cantando na Chuva (Singing in the Rain) Produção: EUA, 1952 Direção: Stanley Donen, Gene Kelly Com: Gene Kelly, Debbie Reynolds, Donald O'Connor Quando: a partir de hoje nos cines Eldorado 1 e Gazetinha Texto Anterior: Agora, Godard ficou claro Próximo Texto: Freed foi gênio do musical Índice |
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