São Paulo, sábado, 23 de novembro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Embaixador analisa nova geopolítica

RODRIGO BERTOLOTTO
DE BUENOS AIRES

As velozes mudanças dos últimos anos são analisadas do ponto de vista da América Latina no livro "A Nova Política Internacional", de Heraldo Muñoz.
Muñoz, atual embaixador chileno no Brasil, dividiu em cinco capítulos as conferências que deu na Universidade Federal de Brasília, ponto de partida da publicação.
Por ser baseado em palestras, o texto é carregado de citações de vários pensadores e atores políticos do momento, mas, por entre elas, aparecem as opiniões do autor.
O livro vale pelo acesso a informações do ambiente diplomático, misturadas com números econômicos e interpretações acadêmicas.
O primeiro capítulo descreve o fim da guerra fria, ou seja, da bipolaridade EUA-URSS e o surgimento da nova ordem dos blocos regionais.
Esse trecho do livro traz, por exemplo, uma interpretação pessimista da realidade, feita por Robert D. Kaplan: "Uma parte do globo encontra-se habitada pelo 'Último Homem' de Hegel e Fukuyama, saudável, bem alimentado e favorecido pela tecnologia. A outra parte, maior, está habitada pelo 'Primeiro Homem' de Hobbes, condenado a uma vida pobre, amarga, brutal e curta".
Kaplan acredita que o Estado-nação será substituído na África, Ásia e Europa mediterrânea pelo "Estado-favela", tradução de um regionalismo nebuloso.
Depois de apresentar essa visão, Muñoz se certifica das indefinições do mundo atual, mas renega essa posição negativista.
O autor também discorre sobre apresenta a importância maior do conhecimento no mundo globalizado.
Para tanto, cita o "guru" norte-americano da administração Peter Drucker, que compara os produtos-símbolo de progresso dos anos 30 (automóveis) e dos dias atuais (microchips).
No carro, 70% do valor total cabia à mão-de-obra. No microchip, o trabalho braçal representa só 2,5% -80% do valor é composto pelo conhecimento.
Nesse ponto, Muñoz chama a atenção para a migração da indústria para os países em desenvolvimento, enquanto nos países mais ricos os serviços e a pesquisa se expandem como fonte de recursos.
O autor costura esses pensamentos com dados econômicos da América Latina e sua recente inserção no mercado mundial.
Fala do aumento do comércio exterior e do Produto Interno Bruto "per capita" (índice do enriquecimento do país) na região, mas apresenta o desemprego como principal problema.
Para Muñoz, a abertura democrática e comercial da América Latina é irreversível, mas não escapa de obstáculos, como os surgidos no início de 1995 -o "efeito tequila", no México, e o conflito fronteiriço entre Equador e Peru.
Aproveitando sua experiência diplomática, Muñoz destaca no segundo capítulo os esforços recentes da OEA (Organização dos Estados Americanos) para sustentar as democracias latino-americanas, destacando os casos do Peru, Guatemala e Haiti.
Na parte seguinte do livro, o autor analisa o sistema de segurança após o fim da guerra fria, com a suspensão das rivalidades de fronteira e o advento do combate do narcotráfico e da proteção do meio ambiente, como atualmente acontece no Brasil.
O quarto capítulo se detém sobre a relação entre expansão comercial e meio ambiente.
"Em alguns países desenvolvidos, por exemplo, vem crescendo a tentação de manipular legítimas preocupações, como o meio ambiente e as condições sociais nos países em desenvolvimento, para anular, mediante a imposição de cláusulas ambientais e sociais, as vantagens que esses países possuem em função de seus menores custos de mão-de-obra e sua maior disponibilidade de recursos naturais", opina o autor.
Muñoz traz as experiências bem-sucedidas de Chile e México no equilíbrio entre desenvolvimento e preservação da natureza.
O livro se fecha com a análise de blocos econômicos como o Mercosul (Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai) e o Nafta (EUA, Canadá e México).

Texto Anterior: Bancários protestam em frente ao BC
Próximo Texto: BC tem de comprar dólar e vender LTNs
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.