São Paulo, sábado, 23 de novembro de 1996
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Castiglioni ensina a iluminar museus

FERNANDO OLIVA
DA REDAÇÃO

Piero Castiglioni, arquiteto especialista em iluminação de museus, chega a São Paulo amanhã a convite da Pinacoteca do Estado para ministrar duas palestras sobre sua especialidade. Castiglioni aproveita a visita para conhecer a Pinacoteca e sugerir algumas mudanças na iluminação do prédio.
O arquiteto trabalhou na iluminação de grandes museus, como o d'Orsay e o Georges Pompidou, em Paris, o Palácio Grassi, em Veneza, e o Museu de Arte Catalã, em Barcelona.
Seus projetos também podem ser vistos em Lisboa (Portugal), Istambul (Turquia) e em Gênova, Milão e Ferrara, na Itália.
Segundo Emanoel Araújo, diretor da Pinacoteca, o museu tem interesse num projeto de iluminação feito por Castiglioni. Tudo depende dos preços cobrados pelo arquiteto e da verba disponível.
A nova iluminação da Pinacoteca integraria sua reforma geral, que inclui mudanças na estrutura do edifício e do espaço interno e a climatização de parte do acervo.
Araújo disse que a preocupação com a conservação das obras mudou violentamente a iluminação usada pelos museus. "Desenhos, por exemplo, são expostos hoje quase na penumbra", afirmou.
Ele citou a iluminação do "Codex Hammer", manuscrito de 72 páginas produzido por Leonardo da Vinci (1452-1519) entre 1506 e 1510 e exposto pelo Museu de História Natural, em Londres.
Como os desenhos e escritos científicos de da Vinci só podem ser iluminados por alguns minutos, o público é obrigado a vê-los de forma alternada, acompanhando o acender dos "spots" de luz.
Picasso Em entrevista à Folha, de Milão, onde fica seu escritório de arquitetura, Castiglioni disse que o papel da luz não é intervir diretamente, mas valorizar o que está exposto.
"Se uma obra de arte é escura é porque o artista a concebeu escura. Se é clara, é porque o artista a quis assim. Não podemos aumentar ou diminuir a luz em função do tipo de obra, mas iluminar de maneira objetiva", afirmou.
"Picasso, por exemplo, deve ter pintado telas com luz artificial ou natural, mas pensando em colocá-las em qualquer lugar. Devo respeitar a criação do artista e não posso aumentar, diminuir ou mudar a cor da luz. Se Picasso fez um quadro de coloração azul, não devo corrigi-lo com amarelo, que é o contrário do azul, nem exaltá-lo com mais azul ainda. Devo sim iluminá-lo com uma luz próxima ao branco para que as cores não sejam alteradas", explicou.
Outra preocupação do arquiteto é esconder o aparato de iluminação. "Atualmente os museus são obrigados receber muitos aparelhos de segurança, como sistemas de alarme e antiincêncio, além do ar-condicionado e controle de umidade. Tudo isso, mais a iluminação, deve ser inserido com menos violência possível", afirmou.
Castiglioni já esteve diversas vezes no país, fala um pouco de português e conheceu o paisagista Burle Marx, a arquiteta Lina Bo Bardi e o engenheiro Lúcio Costa.

Palestras: Iluminação de Museus (terça, dia 26) e Iluminação de Exposições Temporárias (quarta, dia 27), das 15h às 18h
Com: Piero Castiglioni (arquiteto italiano), há tradução simultânea
Onde: Banco Safra (av. Paulista, 2.100)
Informações: tel. 011/227-6329, r. 217

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