São Paulo, sábado, 23 de novembro de 1996
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Chomsky diz temer o poder privado

Linguista fez ontem últimas palestras em SP

DA REPORTAGEM LOCAL

Depois de uma palestra marcada por atrasos, tumultos e problemas com a tradução simultânea durante a manhã, o linguista Noam Chomsky, 67, voltou ao auditório da FAU, na USP, às 15h de ontem para sua última conferência em São Paulo.
Por cerca de uma hora, ele desenvolveu sua teoria de como as sociedades democráticas se utilizam da propaganda para controlar as massas, citando filósofos e documentos das agências de inteligência norte-americanas.
Ao apresentar o linguista, a filósofa Marilena Chauí alfinetou o presidente Fernando Henrique Cardoso. "Chomsky nunca cedeu à mídia, ao poder ou às modas. Também nunca disse a ninguém que poderíamos esquecer o que ele escreveu", disse.
Respondendo a perguntas do público, o linguista teve que explicar porque, apesar de ser anarquista, preconiza que o Estado não pode abrir mão de setores da sociedade. "Acho qualquer Estado ilegítimo, mas acredito que há hoje um grande perigo: o poder privado. Se diminuirmos o Estado, é esse poder que crescerá", afirmou.
Confusão
Logo nos primeiros minutos, o sistema de som e tradução simultânea também apresentou problemas. Chomsky teve que mudar de lugar, mas fez piada, dizendo que esse tipo de coisa acontece até no MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), um dos principais centros de inteligência do mundo.
Durante a conferência, ele falou ainda sobre os conceitos de linguagem e inteligência dos computadores. "Estudar essas questões é como estudar se os submarinos nadam. Não faz o menor sentido. Pensar é um verbo que se usa para os seres humanos."
Na segunda-feira, Chomsky segue para Brasília. Até o dia 3 de dezembro, quando deixa o país, visita ainda Belém e Maceió.

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