São Paulo, domingo, 24 de novembro de 1996
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Picadinho carioca

MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
EDITOR DE DOMINGO

Além da candidatura olímpica, o grande assunto da semana carioca foi o fechamento do Circo Voador, por ordem do prefeito Cesar Maia.
Para os paulistanos que não acompanharam: o Pitta local, Luiz Paulo Conde, comemorando sua eleição, foi parar com séquito e bandinha no Circo, tradicional reduto alternativo do Rio -que teve dias de glória no Arpoador e fixou-se na Lapa.
Conde chegou pouco antes do início de um programa duplo de punk rock, reunindo os Garotos Podres e os Ratos de Porão.
A meninada respondeu no ato: colocou o eleito e sua bandinha para fora. Sob vaias e latinhas, como o Circo, voadoras.
Cesar Maia, enfurecido, cassou o alvará da casa, alegando tratar-se de um antro de bagunça, maconha e cocaína.
Conde percebeu o erro e, numa típica declaração carioca, admitiu ter entrado "numa praia que não era a minha". De fato. Tanto que chamou as bandas de "Almas Podres e Garotos do Porão".
O colunista Arthur Xexéo, do "Jornal do Brasil", que apesar de episódios desse tipo continua achando que São Paulo é que é estranha, foi ao ponto: se é um antro, como disse Cesar Maia, o que seu dileto candidato eleito foi fazer lá?
Um pequeno editorial de "O Globo" acertou outra: fechar o Circo equivaleria, no caso de um homicídio, a mandar prender o local do crime.
O Rio continua divertindo-se.
*
Ainda na Cidade Maravilhosa, ouço, num dia de chuva intermitente, um animado diálogo numa mesa de bar. "Está havendo uma paulistização da cultura carioca", sustenta um rapaz, que discorre empolgadamente sobre o tema.
O outro, que ouve atentamente, concorda: "Inclusive não pára de chover".
*
Encontro um antigo colega de PUC e militância estudantil. Está dirigindo uma ONG.
O Rio é nossa ongópolis. Deve ser uma das cidades com maior concentração de ONGs por habitantes do mundo.
*
Muitos criticam Cesar Maia por ter feito uma simples "maquiagem" na cidade.
É indiscutível que o Rio, como São Paulo, já passou da hora de implantar uma política séria de investimentos sociais.
Mas, sendo a cidade que é, estava mesmo por merecer um trato urbanístico.
Para quem não pisava lá desde o Carnaval, foi uma agradável surpresa.
*
E o Noam Chomsky? Foi visitar uma comunidade carente carioca e virou refrão de rebolado: "Segura o Chomsky, amarra o Chomsky". Delícias populares.

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