São Paulo, domingo, 24 de novembro de 1996 |
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Substituição de exportação?!
ÁLVARO ANTÔNIO ZINI JR. Muitos apontam que um dos erros do passado foi ter promovido o crescimento da economia com o modelo da substituição de importação. Pois, a julgar por declarações recentes de representantes do governo federal, parece que caímos no pólo oposto: o modelo de substituição de exportação. O ruim é que esse "modelo" nem gera crescimento.O governo federal, por ter permitido que a taxa de câmbio acumulasse grande defasagem, gerou o aumento da importação e desestimulou a exportação. As vendas de produtos industrializados para a Europa e Estados Unidos vêm recuando desde 1994, ao passo que as exportações mundiais desses produtos vêm crescendo a taxas anuais de 9% a 10%. Logo, o problema não é o comércio internacional... Com isso, o Brasil está tendo déficits em conta corrente. O resultado da conta corrente é a soma da conta de comércio com mercadorias com a conta do comércio com serviços, menos o que o país recebe como donativos e transferências. Qualquer aluno de economia, que fez um bom curso de economia internacional, aprende que a conta corrente é a mais importante do balanço de pagamentos. Mas há quem diga que "a conta corrente não importa; o que importa são as entradas de capital". Esta foi a base do famigerado "enfoque monetário do balanço de pagamentos" adotado pela Argentina e Chile no final dos anos 70 e que quebrou os dois países (na Argentina, Martinez de Hoz, o ministro da Economia da época, depois acabou indo para a prisão). Um déficit em conta corrente significa que o país acumula passivo líquido no exterior. Ou seja, o país fica devendo, quer tomando empréstimos, quer via entradas de capital de risco. Nos dois casos o país tem a obrigação de gerar mais dólares para pagar royalties e remessas de capital, no caso dos investimentos. Isto não é ruim quando o país cresce, puxado pelo crescimento das exportações. Mas não é isso o que está acontecendo. Como a lucratividade da exportação está deprimida, não há perspectiva de crescimento robusto das vendas ao exterior. Conclusão: voltamos à política de endividar o país. Somando o déficit em conta corrente de US$ 18 bilhões de 1995, mais US$ 22 bilhões deste ano, com o déficit projetado de US$ 25 bilhões para 1997, em três anos o governo terá feito crescer o passivo externo do Brasil em US$ 65 bilhões. Este saldo, evidentemente, pagaremos no futuro. Álvaro Antônio Zini Júnior, 43, é professor titular de economia internacional da Faculdade de Economia e Administração da USP (Universidade de São Paulo). Texto Anterior: Empresas têm alternativa de capitalização Próximo Texto: Tributaristas vêem falhas no projeto do IR Índice |
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