São Paulo, domingo, 24 de novembro de 1996
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Teoria desenvolvida por FHC é questionada

DA REPORTAGEM LOCAL

"Eu nunca comprei a tese do Fernando Henrique (Cardoso). Ela sempre me pareceu bastante ridícula, primitiva mesma."
É dessa forma que Roberto Campos responde à pergunta feita pelos três entrevistadores do livro "Conversas com Economistas Brasileiros" sobre o que ele pensa a respeito da teoria da dependência, desenvolvida por FHC e Enzo Faletto, no seu livro "Dependência e Desenvolvimento na América Latina", publicado em 1970.
A teoria da dependência foi uma tentativa de explicar o atraso da América Latina em relação aos chamados centros desenvolvidos e encontrar formas de superar esse atraso. O subdesenvolvimento seria, segundo essa tese, um fenômeno relacionado à falta de dinamismo das estruturas produtivas dos países ditos periféricos, que teriam indústria e tecnologia pouco avançadas.
As avaliações dos economistas sobre a tese de FHC variam tremendamente.
Os economistas que poderiam ser classificados como mais ortodoxos fizeram críticas ácidas, enquanto os heterodoxos consideram a teoria relevante.
Um pouco ultrapassada
Luiz Carlos Bresser Pereira é um dos que afirmam que "a contribuição teórica que os brasileiros deram ao pensamento econômico é limitada", apesar de existirem duas teses importantes para a economia desenvolvidas no país -e uma delas seria exatamente a teoria da dependência.
A outra contribuição brasileira seria a tese sobre inflação inercial.
Para Luiz Gonzaga Belluzzo, a teoria da dependência, da forma como foi montada por Fernando Henrique, mostrava "um pouco de otimismo".
A teoria defenderia o ponto de vista de que, mesmo que um país não pudesse ter um desenvolvimento autônomo, poderia ter um "desenvolvimento associado, dependente, mas esse desenvolvimento poderia ter graus distintos de avanço social".
Para ele, a teoria de FHC, hoje, estaria um pouco ultrapassada.
Diz Belluzzo: "As condições que presidiam aquele momento não são mais as que estão presentes agora. As condições de desenvolvimento capitalista são muito mais restritas hoje do que foram no passado. Os requisitos para integração na economia mundial são muito mais duros".
Nem teoria
Outra crítica é feita por Paulo Nogueira Batista Júnior, que, concordando com o próprio Fernando Henrique Cardoso, acha que a tese não deveria nem ser chamada de teoria.
Além disso, Batista acha que a tese de FHC já conteria, ainda que em germe, a estratégia seguida pelo presidente nos anos 80 e 90. "O que diziam Cardoso e Falleto? 'A burguesia nacional é dependente e associada, ela não será um aliado (da esquerda contra o imperialismo americano).' Não há uma alternativa nacional ao imperialismo norte-americano. (...) Portanto, só restaria a cooperação com as forças internacionais."

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