São Paulo, domingo, 24 de novembro de 1996
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Rota da heroína agora passa pela China

JAIME SPITZCOVSKY
DE PEQUIM

A China, que voltou à rota do tráfico de drogas na Ásia no final dos anos 70, se transforma agora no principal ponto de saída da heroína produzida em Myanma (ex-Birmânia) e levada para os EUA. Pequim também enfrenta o aumento do número de viciados.
Em janeiro, a rendição do mais célebre traficante da Ásia, Khun Sa, criou a expectativa de uma diminuição na produção de heroína no continente. O "rei do ópio" controlava a região produtora conhecida como Triângulo Dourado, que fica encravada numa área montanhosa, de difícil acesso, entre Myanma, Tailândia e Laos.
Mas a rendição de Khun Sa e seu exército particular emerge como capítulo de uma ópera montada pelo governo militar de Myanma para aplacar a pressão internacional. O "rei do ópio" arrancou um acordo de paz que não o levou à prisão nem cessou a produção de drogas no Triângulo Dourado.
Logo após a rendição, verificou-se uma passageira escassez de heroína nos mercados da fronteira entre Tailândia e Myanma. Mas atualmente a oferta retornou aos níveis anteriores, segundo os EUA.
Khun Sa vive numa mansão em Yangon, a capital birmanesa, e os EUA acreditam que ele continue a comandar o tráfico.
A polícia birmanesa admite que pelo menos 40% da heroína que transitava pela Tailândia transformou o país mais populoso do planeta em principal rota de saída para as 315 toneladas da droga produzidas anualmente em Myanma.
Os traficantes passaram a cruzar o território da China com mais frequência nos anos 80, quando foi aberta a fronteira com Myanma, e o comércio entre os dois países teve crescimento meteórico.
O intenso movimento de mercadorias e passageiros na fronteira dificulta a ação da polícia chinesa.
O tráfico também desviou seu caminho para a China a fim de evitar a ofensiva antidrogas da polícia tailandesa, força mais bem treinada e equipada do que a chinesa.
Cruzada a fronteira, os carregamentos de drogas são enviados à colônia britânica de Hong Kong. De lá, seguem para EUA e Japão.
Os traficantes vendem parte da droga para o crescente mercado consumidor da China. O governo admite haver 500 mil viciados em heroína, mas especialistas estrangeiros acham que os números oficiais são subestimados.
Depois da revolução comunista de 1949, o governo de Mao Tse-tung chegou a proclamar "vitória total" em sua política de combate ao tráfico e consumo de drogas. Mas o problema ressurgiu nos anos 70, como efeito colateral das reformas que injetam capitalismo na economia chinesa.
O sul da China é o principal foco de preocupação do governo. Faz fronteira com o Triângulo Dourado e abriga algumas das áreas mais pobres do país, que recorrem ao tráfico para obter recursos.

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