São Paulo, domingo, 24 de novembro de 1996
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Palavra do presidente

VALDO CRUZ

Brasília - O presidente Fernando Henrique Cardoso anda muito chateado com a imprensa. Tem dito a amigos e auxiliares mais próximos que os jornalistas não acreditam nele quando diz que não entrará no jogo da barganha para aprovar a reeleição.
Para que o presidente não diga que sua versão nunca chega aos leitores, segue o desabafo presidencial, segundo o relato de pessoas que estiveram com ele nos últimos dias.
FHC diz que deu duas demonstrações recentes de que não fará a política de troca de favores. Desagradou aos ruralistas com o novo ITR (Imposto Territorial Rural) e à bancada pró-Vale do Rio Doce, ao manter sua venda.
Mesmo assim, reclama, a imprensa continua dizendo que ele vai barganhar a reeleição a qualquer custo.
FHC, segundo seus amigos, sabe que terá de fazer algumas concessões. Do tipo nomear um afilhado político ou liberar verbas para obras em reduto eleitoral de aliados. São consideradas "moedas legítimas" no Planalto.
O presidente vem repetindo, dizem os amigos, que a negociação tem, no entanto, um limite. Não cederá em nada que possa "manchar sua biografia". Cita os casos da Vale e do ITR.
FHC chega a dizer que não é "bobo" para cair na armadilha que o prefeito Paulo Maluf (SP) e o ex-presidente José Sarney estariam armando para ele: empurrá-lo para o jogo do fisiologismo. Em sua avaliação, seria mortal. Ganharia a reeleição e chegaria à eleição de 98 um bagaço.
Aí está o que pensa o presidente.
FHC deveria, porém, combinar o discurso com seus aliados. É comum ouvir de governistas comentários sobre o poder do cofre e da caneta presidencial para aliciar dissidentes.
E evitar outros tipos de demonstrações, como ceder aos fiéis pefelistas e abandonar a proposta de mudanças no tíquete-alimentação.
O caso poderia ter sido usado como um exemplo de que esse governo não barganha.

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