São Paulo, segunda-feira, 25 de novembro de 1996
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"Você Decide" promove conciliação ambígua

ESTHER HAMBURGER
ESPECIAL PARA A FOLHA

"Você Decide" promove a participação dos espectadores como juízes de personagens que, aprisionados em uma lógica de decisão dual, se dilaceram diante da inevitabilidade de uma perda. Mas nem sempre há emoção na torcida.
O resultado é previsível pela maneira com que a questão é formulada. E curiosamente muitas vezes o final representa mais uma conciliação ambígua, que o anunciado jogo de soma zero.
A narrativa vai sendo construída de maneira simples e direta. A pergunta é esmiuçada a cada intervalo. A avó rica e megera só deixa a herança para a neta na condição desta se separar da mãe. Se ceder a menina para a avó, a mãe se submeteria à dor da separação. Mas se impedir a mudança, estará privando a menina da herança.
A moça "fria, intransigente, envolvente, determinada, ardente e gostosa" deve decidir entre abrir mão de um emprego no exterior em favor da mãe que a abandonou na infância? Ou deve se vingar em um momento em que a mãe necessita de uma chance? O comerciário modesto deve colocar em risco sua rotina em função de uma paixão por uma alcoólatra escandalosa, mas carente?
O resultado da votação raramente é disputado. Um arrolamento amplo das consultas provavelmente revelaria a reafirmação de certas opiniões constantes do público que participa. A maternidade é sagrada. A mãe do primeiro episódio deve manter a guarda da filha em detrimento da herança. A moça do segundo episódio deve dar uma chance a sua mãe sinceramente arrependida. O homem provedor modesto, ainda que raro, continua valorizado.
Mas às vezes o final não corresponde exatamente ao sim ou não anunciados. Quando a mãe requisita a filha de volta, a avó cede e a convida para morar com a filha na mansão. A moça que não vai ao exterior não perde nada, ao contrário, aprende a dar vazão à emoção e ganha um casamento. A lógica da conciliação suplanta a oposição simplista e evita o conflito.
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Não perca o documentário "Paisagens Urbanas" de Nelson Brissac Peixoto que vai ao ar a partir de amanhã pela TV Cultura às 22h30.
O seriado de 3 capítulos, editado com dinamismo por Jurandir Muller e Kiko Goifman, reúne ensaístas e artistas que trabalham sobre suportes variados para pensar sobre o caos das grandes cidades contemporâneas. Os professores Olgária Mattos e Davi Arrigucci pontuam o vídeo, que conta também com trabalhos e depoimentos de Paulo Mendes da Rocha, Amílcar de Castro e Carlos Sagesse.

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