São Paulo, segunda-feira, 25 de novembro de 1996
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Um produtor de cinema

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - Volto de Natal com algumas surpresas, algumas boas, outras nem tanto. Entre as boas, a alegria de reencontrar Jarbas Barbosa, que conheci acidentalmente em Recife, em distantes anos. Ele ainda não se tornara produtor de cinema, era apenas "o irmão do Chacrinha".
Tinha muita garra o rapaz, então com 27 ou 28 anos. Fazia de tudo um pouco como cinegrafista e boa praça. Quase de repente, tornou-se um grande produtor de cinema, principalmente do cinema-novo.
Seu nome começou a aparecer obrigatoriamente nos créditos iniciais de alguns dos maiores filmes nacionais. A começar por "Boca de Ouro", de Nelson Pereira dos Santos, passando por "Ganga-Zumba, Rei dos Palmares", "Os Fuzis", "Deus e o Diabo na Terra do Sol", "Chica da Silva" -ou seja, o creme do creme do cinema nacional.
Não perdeu o jeitão de boa pinta, engordou um pouco, mas continua em forma. Considera-se aposentado, conhece tudo de cinema, desde como se faz um roteiro até como se deve fazer uma boa exibição. De certa forma, está cansado do cinema, não da vida.
Mora em Boa Viagem, defronte ao mar, não ficou milionário, mas é homem sem ambições. Passa a impressão de que não dá bola para a sua importância cultural -ele próprio repele qualquer veleidade de cultura. Mas sabe de tudo, conhece todo mundo e só não faz cinema porque prefere fazer a vida dele, sem badalações, a baixo custo.
Os que trabalharam com ele e os que o conhecem sabem que Jarbas Barbosa é um tipo, ajudou meio mundo, para não dizer que ajudou todo mundo do cinema. Nos Estados Unidos ou na Europa, seria um ícone. No Brasil, continua sendo o boa praça que sempre foi, tomando seu campari à beira da piscina, conhecendo fundamente não apenas o cinema, mas a vida.
Ainda bem que o pessoal do cinema-novo, divisor e dividido, tem nele um dos seus poucos referenciais comuns.

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