São Paulo, terça-feira, 26 de novembro de 1996
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Múltiplos resumem universo de Kapoor

CELSO FIORAVANTE
DA REPORTAGEM LOCAL

O artista plástico anglo-indiano Anish Kapoor, um dos convidados especiais da Bienal, tem novos trabalhos na cidade a partir de hoje.
A galeria Luisa Strina exibe 15 trabalhos seus de dimensões bem menores que as esculturas expostas no evento no Ibirapuera. São cinco esculturas da série "Echo" (caixas de música) e dez gravuras a água-forte (técnica em que um ácido oxidante marca espaços determinados pelo artista nas chapas de metal que serão usadas na impressão).
A série "Echo" é composta por cinco caixas de música, com tiragem de 30 exemplares cada. A música foi composta especialmente para as caixas pelo músico Brian Elias.
Nelas, Kapoor resume elementos do sincretismo que o acompanha desde seu nascimento e que se apresenta também em toda a tradição hindu. Kapoor é filho de pai indiano e de mãe judia, e seu país natal sedimentou-se em culturas e tradições bramanistas, islâmicas, budistas e cristãs. "Colocar o meu trabalho em relação a uma única cultura é muito pouco", já disse Kapoor à Folha, em agosto último, reiterando sua formação repleta de contradições, paradoxos e dualidades.
O cubo em madeira, por exemplo, uma remissão à Caaba (templo islâmico em Meca), tem uma escada -um símbolo do cristianismo- esculpida em seu centro.
Cones, cubos e esferas são elementos geométricos constantes na cultura hindu, que trata o corpo como uma entidade cosmológica que condensa todo o universo.
A caixa de música na forma de uma montanha, com sua pigmentação azul, é um simulacro do princípio hindu "lingam-yoni", pois remete simultaneamente ao falo infinito do deus Shiva e à vágina cósmica da deusa Kali, cuja união gera todo o universo.
A tradição hindu professa que Brahma (o Eu do cosmos) é absoluto, dissolve todas as contradições e está presente em todos os homens, objetos e lugares, tornando tudo sagrado.
As cores também fortalecem as relações de Kapoor com a tradição tântrica, que reúne elementos do budismo, do hinduísmo e de cultos populares. Nela, a utilização de monocromias estabelece sempre algum tipo de simbologia.
O azul, por exemplo, representa a transcendência espiritual. O branco se relaciona com o estado virginal e com a feminilidade.

Mostra: Anish Kapoor - Gravuras e Múltiplos
Preços: Caixas de música, de R$ 12.000 a R$ 18.000; gravuras, entre R$ 5.000 e R$ 6.000
Onde: galeria Luisa Strina (r. Padre João Manuel, 974A, tel. 011/255-6995, Jardins) Vernissage: hoje, às 19h
Quando: até 20 de dezembro

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