São Paulo, terça-feira, 26 de novembro de 1996
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Fotos expõem choque do passado kalunga

Quilombo ficou 250 anos isolado

DA REPORTAGEM LOCAL

A 590 km ao norte de Goiânia, o Brasil do final do século 20 é parecido com o do final do século 18. Não há estradas, dinheiro é mosca branca, e missas, só em latim.
É a terra dos kalungas no Vão de Almas, um remanescente de quilombo que ficou parado no tempo por quase 250 anos. É desse choque do passado que Antonio Gaudério, repórter fotográfico da Folha, extrai a matéria para a exposição que a USP inaugura hoje.
Os kalungas começaram a chegar ao Vão de Almas por volta de 1850. Ninguém sabe ao certo de onde fugiam -se de Minas, Bahia, Goiás ou São Paulo.
Supõe-se que eram de Angola e do Congo, onde kalunga quer dizer vale, rio ou mar.
Só passaram a ser reconhecidos pelo governo em 1982, ano em que a antropóloga Mari Baiocchi, da Universidade Federal de Goiás, descobriu-os.
As fotos mostram os kalungas reunidos para a Festa de Nossa Senhora, quando coroam um imperador que reina por um ano.
Impera ali uma solidariedade quase tribal. Para atravessar o rio, um kalunga carrega o outro nas costas para este não se molhar. Na hora do banho, todos esfregam as costas de todos, como se a moral fosse outra. E é: inexiste entre eles a noção de adultério.

Mostra: Vão das Almas, de Antonio Gaudério
Quando: De hoje a 10 de de dezembro
Onde: Faculdade de História e Geografia da USP (av. Lineu Prestes, 338, Cidade Universitária). De seg a sex, das 8h às 22h
Entrada: franca

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